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Você me conhece!

SÃO GONÇALO DE AFETOS


Por Paulinho Freitas


Frequento desde sempre a feira do Paraíso.  Houve um tempo em que, depois de uma noite passeando de bar em bar, amanhecia no trailer Joamigão e  quando terminavam de montar a feira, sentava na barraca do salgado para beber a saideira. Tempo bom... 


A feira hoje é no Gradim, conserva ainda alguns atrativos como antigamente, temos as barracas de pastéis, tem uma barraca que vende torresmo quentinho, caldo de cana, a barraca da carne de porco, o peixeiro, o vendedor de chumbinho que cochicha no ouvido dos passante com voz rouca e desconfiada:


“Chumbinho! Mata o rato, seca o rato, coitado do rato!” 


Neste fim de semana a feira estava diferente, é tempo de eleição. Havia mais candidatos a vereador do que feirantes e fregueses. Nesse ir e vir de panfletos e bandeiras encontro com meu amigo de infância, o Jubileu. Nunca trabalhou na vida. Viveu às custas dos pais, depois que estes se foram, vive de vender, comprar tudo o que aparece. Um catireiro. Está sempre pronto a dar uma “manta” em alguém. Hoje é candidato a vereador. Lá de longe, apesar de eu tentar me esconder, ele me vê e já vem com aquele sorriso tão aberto que dava para ver o último dente da boca. Me abraçou fazendo a maior festa, lembrando dos tempos de infância. Lembrou do falecimento de meu tio e fez questão de lembrar que segurou a alça do caixão até que este descesse a sepultura. Lembrou que pagou minha passagem de ônibus uma vez lá em Niterói, quando eu não tinha como voltar para casa e por derradeiro disse que se eleito vai me ajudar a reformar meu carro, nem que ele tenha que desmontar o carro do tio para montar o meu. 



Para vocês terem um ideia de quem é Jubileu, uma vez uma vizinha, dona Helena, estava muito gripada. Minha avó deu dinheiro a Jubileu para comprar uma galinha para fazer uma canja. Jubileu matou uma galinha da criação da própria dona Helena e a entregou pra minha avó como se tivesse comprado. Quando dona Helena melhorou e sentiu falta do bicho ainda ficou sem falar com minha avó, pensando ter sido ela a mal feitora. Tento de todas as formas me desvencilhar dele sem sucesso. Por fim, me abraçou como se fosse fazer uma foto e cheio de emoção discursou:


“Tenho vários pojetos social e vários pojetos cultural. Vou acabar com essa robalera, vô metê o pé na porta do congresso, acabar com o CENTRÃO, lutar contra essa ditadura no Brasil. Vou dar saúde, segurança e educação pro povo brasileiro! Já falei com Jedir Brisa, vou colocar a Acadêmicos do  Universo na Marquês de Sapucaí!”


E começou a chorar. As bandeiras balançam de um lado para o outro, as pessoas aplaudem e gritam o nome de Jubileu. Ele pisca o olho pra mim e arremata em alta voz:


“Você me conhece desde a infância, tu sabe que eu cumpro o que prometo. Conto com teu voto e de tua família!” saiu quase que carregado por seus correligionários. 


Outras bandeiras e candidatos depois, consegui chegar ao final da feira, com dor de cabeça e sem ter comprado nada. Acho que só volto lá depois da eleição. A dor de cabeça pode ser maior. Pela quantidade de pessoas, até com bandeiras de outros candidatos que gargalhavam e aplaudiam Jubileu, sei não... 


Ah meu São Gonçalo! Protegei os filhos de tua terra! 


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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.

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