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Foto do escritorJornal Daki

Um Efeito Colateral positivo em meio à crise, por Mário Lima Jr.


O cancelamento de eventos públicos e a necessidade de isolamento social para proteção contra a COVID-19 mudou a vida de todos e impõe diversas dificuldades, inclusive emocionais. O Efeito Colateral, que acontecia mensalmente na Casa das Artes, no bairro Zé Garoto, faz uma falta imensa.


Além de apresentar com genialidade a arte e o pensamento gonçalense, dentro do evento surgia a alma do Brasil inteiro. Tanto através da música popular quanto pelo diálogo sobre as necessidades e sonhos do país. A boa notícia, em meio a tantas mortes, tantas pessoas infectadas, é que os gonçalenses não perderam o Efeito Colateral. Na próxima segunda-feira (18/05) o evento terá uma versão online pelo Instagram (@rafaelmassoto78).


Organizado por Rafael Massoto e Victor Rosa, encontrei o Efeito Colateral em um passeio exploratório para descobrir o que São Gonçalo tem de bom. Antes de qualquer piada, em Santa Isabel já tomei banho de água gelada e cristalina caindo do teto de uma caverna depois de caminhar por quase duas horas entre a fazenda e a mata, respirando ar puro, em pleno verão. No Colubandê bebi água de coco sob a sombra das árvores ao lado de uma capela do século 17. Enquanto segurava o coco e bebia com uma mão, soltava pipa com a outra e voava para uns garotos de menos de dez anos de idade. No Rodo comi um bolo de aipim com café feito na hora, na minha frente, enquanto lia um jornal da cidade. É isso que chamo de bom.


Dentro do Efeito Colateral, em pleno solo gonçalense, ouvi composições de Johann Sebastian Bach tocadas no violão. Uma das grandes contradições que testemunhei na vida, a sujeira e o abandono político de frente para a sensibilidade e força de uma música que vai durar para sempre. Nunca imaginei que São Gonçalo fosse capaz disso e a especialidade do Efeito Colateral é esta. Mostrar belezas que o público não faz ideia que existem, seja em São Gonçalo ou em qualquer outro lugar.


Ser referência artística ou política não é o objetivo da organização do evento, mas não é por acaso o clima de intimidade com a arte e a palavra. Supreendendo as pessoas que comparecem para ouvir palestrantes e músicos convidados, que mudam a cada edição, o Efeito Colateral cumpre sua razão de existir: resistir ao momento político de trevas que o Brasil vive. Em que há incertezas sobre os valores mais caros para uma sociedade democrática, entre eles a atividade livre dos poderes da República.


Detalhes sobre o funcionamento do nosso SUS, aspectos envolvendo a prevenção ao suicídio (como prestar atenção nas pessoas ao seu redor) e explicações sobre a formação histórica gonçalense são alguns dos assuntos já abordados pelo Efeito Colateral. Imagine São Gonçalo, tão deficiente, sem nunca mais discutir temas assim. Imagine o prejuízo para o Brasil. Por isso é tão importante ouvir o que será dito, cantado e tocado pelo Efeito Colateral no próximo dia 18.


Inúmeros artistas têm se apresentado em lives com o intuito de trazer esperança, para que ninguém se sinta sozinho. O curioso é que nas edições do Efeito Colateral em que estive presente o mais agradável sempre foi a sensação de não estar só. Via tantas pessoas presentes ali, com preocupações idênticas sobre os rumos do país, e ao mesmo tempo ouvia pela primeira vez cantores e músicos de altíssimo nível, muitos deles gonçalenses. A crise atual é mais um motivo para desejar longa vida ao Efeito Colateral e com ele não se sentir só.

Mário Lima Jr. é escritor.






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