Um dia o Pátio Alcântara será derrubado - por Mário Lima Jr.
A Praça Carlos Gianelli foi destruída, apenas seu nome continua existindo. Tanto que o endereço do Pátio Alcântara é Praça Carlos Gianelli, s/nº. Sem número e sem praça. No lugar do espaço público útil, que num passado não muito distante foi belo e organizado, há um empreendimento privado que ajudou a Aliansce Sonae, empresa administradora do shopping, a aumentar seus ganhos brutos em 17% no último trimestre de 2021. Do lado oposto, a inflação atinge níveis históricos, os maiores em 27 anos, e prejudica cada vez mais os gonçalenses desempregados e na informalidade.
Sem o Pátio Alcântara o desemprego em São Gonçalo não seria maior. A falta de políticas econômicas eficientes que provoca o desemprego. Enquanto o Pátio e a Aliansce lucram, o trabalhador comum não aguenta mais esperar por uma barraca de madeira de segunda mão no Espaço Raul Veiga, ainda em obras, ocupado lentamente pelos vendedores.
Um dia o gonçalense vai acreditar em uma cidade com dignidade e cidadania. Capaz de manter suas praças limpas e organizadas e de oferecer apoio aos desabrigados e dependentes químicos que vivem no município. Ao invés de entregar praças que precisam ser recuperadas a acionistas que exploram o solo municipal sem jamais pisar em São Gonçalo.
Saberemos que os 900 mil clientes que compram por mês no Pátio Alcântara têm força suficiente pra transformar São Gonçalo no que ela quiser. Moderna, tecnológica, socialmente justa e desenvolvida. Onde empresas não crescem e lucram antes que cada cidadão cresça e se desenvolva primeiro. Nesse dia o Pátio Alcântara será derrubado. Ao invés de se humilhar por um espacinho no canteiro do shopping pra se proteger do sol forte, as pessoas que circulam na região descansarão em uma praça confortável e arborizada.
Será transformado em poeira e entulho aquilo que o Pátio chama de “terraço cultural” nas suas campanhas de marketing com o objetivo de lucrar mais. Cultural é o gonçalense andando na rua comendo pipoca, o músico se apresentando com seu saxofone, depois recolhendo o chapéu com notas e moedas do chão, o adolescente tirando a camisa porque o calor é insuportável. O idoso vendendo pipoca, o músico ganhando um trocado pra comprar o leite da filha e o adolescente sem camisa não podem entrar no Pátio Alcântara, então de cultural o shopping não tem merda nenhuma. Gonçalenses são impedidos todos os dias na porta do Pátio pelos seguranças da Aliansce Sonae ocupando um espaço público, onde deveria haver uma praça, pense no tamanho desta violência.
Alcântara sufoca e mesmo sufocante, caótica e poluída consegue ser uma potência bastante frequentada. Quando São Gonçalo levantar a cabeça pra respirar melhor e olhar pro futuro, o Pátio Alcântara estará no chão.
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Mário Lima Jr. é escritor.
