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Um dia de cão - por Paulinho Freitas

SÃO GONÇALO DE AFETOS



Foto: Renan Otto/Divulgação
Foto: Renan Otto/Divulgação

George acordou atrasado, nem tomou café, saiu de casa ainda pondo a camisa para dentro das calças e com os sapatos por enlaçar os cadarços. Desceu o Morro do Pontal correndo, no ponto final da linha 42 Alcântara x Pontal não havia nenhum ônibus. Ainda pensando em Ciça, que ficou fazendo uma limpeza nos armários depois de uma discussão no dia anterior, queimava velhos papéis retirados das gavetas, onde George jogava todos que retirava dos bolsos, tinha notinha de mercado guardada há anos, lembranças sem importância e comprovantes de contas já pagas.


Continuou correndo até a Praça do Gradim sem que nenhuma condução passasse, entrou pela rua Dr. Gradim com destino a parada de ônibus no Porto da Madama e para seu desespero o ônibus que o levaria a Campo Grande acabara de passar, o outro ônibus só passaria dali há uma hora. Quase desmaiando de cansaço e louco de raiva, deu um murro no poste e cortou a mão num ferro que estava à mostra.


Pegou o outro ônibus uma hora depois e quase depois do almoço chegou à agência bancária onde trabalhava. O banco estava fervilhando de problemas, eram aposentados com as contas lesadas por golpistas, gente que tira o dinheiro e acha que o banco a está roubando e no final do expediente ainda faltou mil reais em seu caixa, ele ficou quase até dez da noite procurando a diferença sem sucesso. Lá se vai a prestação do carro que já estava atrasada e corre o risco da financeira tomar.



Já no ônibus de volta para casa um temporal terrível inundou a cidade do Rio de Janeiro. No engarrafamento começou a verificar mensagens e ver vídeos engraçados no celular até que se lembrou de ter feito um jogo da mega sena e foi ao site da caixa conferir. Acertou o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto e começou a tremer e suar frio quando olhou o quinto número e viu que conferia com o seu.


No último banco de um ônibus quase vazio se urinou todo de nervoso ao descobrir que era o único ganhador de um milionário prêmio. A cabeça começou a dar nós, a imaginação foi a Paris, Barcelona, Viena e tantos outros lugares sonhados para levar sua Ciça numa eterna lua de mel.


Quando desceu do ônibus de volta no Porto da Madama já era madrugada, foi andando bem devagar deixando a chuva lavar e levar aquele velho homem pobre, com a vida cheia de dificuldades, quando chegasse em casa iria passar o último e-mail institucional, o de sua demissão e abraçado a sua Ciça dormiria o sono dos que cumpriram sua missão e agora partiriam para receber uma grande dádiva. George estava feliz demais!


Lembram dos papéis que Ciça queimou pela manhã? Pois é...


Ô dia de cão!!!!!


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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.




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