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São Gonçalo como objeto de colecionismo: Telecartofilia, por Rui A. Fernandes

Foto do escritor: Jornal DakiJornal Daki

Receba o Circo de Braços Abertos. Carequinha. George Savalla Gomes. Foto: Arquivo FUNARTE. Telerj. 20 unidades. Acervo pessoal
Receba o Circo de Braços Abertos. Carequinha. George Savalla Gomes. Foto: Arquivo FUNARTE. Telerj. 20 unidades. Acervo pessoal

Telecartofilia é a denominação dada à coleção de cartões telefônicos muito em voga entre finais do século XX e princípios do XXI.


O cartão telefônico foi lançado na Itália, em 1976, como uma tecnologia que vinha substituir o uso de moedas ou fichas na utilização de aparelhos de telefonia pública. Surgiu como desdobramento das pesquisas sobre o uso de dinheiro eletrônico (cartões de crédito) e eram magnéticos.


No Brasil, os cartões telefônicos foram testados pela primeira vez em 1987. O primeiro telefone público brasileiro, para uso de cartões indutivos, foi apresentado durante o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, em Interlagos, São Paulo, em 05/04/1992. Sua implantação oficial ocorreu por ocasião da Eco-92, Conferência Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente, entre 03 e 14 de junho do mesmo ano. Até aquele momento, eram utilizados aparelhos que creditavam o tempo da ligação, a partir de fichas telefônicas. A gradativa substituição dos aparelhos de ficha por aparelhos de cartão ocorreu nos anos seguintes.


O sistema brasileiro era de cartão indutivo, foi inventado pelo engenheiro Nelson Guilherme Bardini, e desenvolvido entre 1972 e 2012. A primeira parte deste invento foi registrado em 1978, no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI). Posteriormente Bardini foi convidado a trabalhar para a Telesp e para o CPqD da Telebrás. Por não conseguir que seu invento fosse implementado, o engenheiro deixou a empresa e passou a trabalhar para a Signalcard. Em novembro de 1987, associam-se a Icatel que expõe, na Telecom 1987, em Genebra, Suíça, um protótipo de telefone público adaptado à utilização dos cartões indutivos. A repercussão do modelo levou o CPqD da Petrobrás a retomar o projeto agora sob chefia do engenheiro Aderval Alves Borges, um dos principais opositores de Bardini. Nesse momento, estavam sendo testados, mundialmente, além dos cartões magnéticos, os cartões “chipados”, entre outras tecnologias. Levando em consideração que os cartões indutivos tinham um custo menor que os “chipados” e eram mais seguros que os magnéticos, a Telebrás avaliou que a melhor tecnologia para o país era a dos cartões indutivos e fixou parceria com a Signalcard, detentora dos direitos da patente de Bardini. Ao longo das décadas de 1990 e de 2010, ocorreram inúmeras disputas judiciais entre as empresas em torno das patentes associadas a essa tecnologia.

Os cartões possuíam, no mínimo, dez créditos. Cada crédito permitia dois minutos de conversação para um telefone fixo local. Seu valor era determinado pela quantidade de créditos que possuía. As operadoras deviam vender os créditos de acordo com o valor fixado pela ANATEL. Os revendedores não possuíam essa obrigação, podendo estabelecer o seu próprio valor.


Rapidamente tornou-se um objeto de colecionismo, sendo utilizados os critérios mais variados: países, categorias, valores, temas ilustrativos etc. Com o tempo, algumas peças alcançaram valores expressivos. Entre os fatores que determinavam essa valorização, encontravam-se a tiragem reduzida, uma série específica, defeitos de fabricação, personalidades do momento, cartões comemorativos, alusivos a eventos esportivos, culturais, entre outros. A primeira série de cartões brasileiros, lançados em 1992, era formada por oito modelos e homenageava elementos da flora e da fauna do país: Araras Azuis, Aves do Pantanal, Mico Leão Dourado, Tamanduá Bandeira, Vitória Régia I, Vitória Régia II, Jacarés e Tiê-Sangue. Em 1997 as empresas estaduais de telefonia passaram a emitir os seus cartões. Os telecartofilistas apontam as privatizações das empresas de telefonia, a partir de 1998, como o momento em que os cartões passaram a ser padronizados perdendo a diversidade temática do período anterior.


Com a popularização da telefonia celular, a partir da década de 2010, ocorreu um declínio na utilização dos aparelhos públicos e na comercialização dos cartões telefônicos, tornando-os objetos apenas de colecionismo.


As empresas de telefonia estadual criaram séries temáticas dos seus municípios ou de aspectos paisagísticos ou culturais tidos como representativos dos estados. No caso de São Gonçalo, o Sistema Telebrás e a Telemar veicularam imagens de uma das principais manifestações culturais locais: os tapetes de sal da procissão de Corpus Christi. Veiculados pela Telebrás, em 1997, foram três cartões de 20 unidades. Todos tiveram tiragem de 10.000 exemplares. No verso trazia a seguinte informação “Tradicional procissão de Corpus Chriti em São Gonçalo – RJ. Tapetes de rua confeccionados pelas paróquias da cidade à base de sal grosso colorido. Já a Telemar publicou dois cartões de 10 unidades, no ano 2000. Com foto de Wander Darrieux, eram cartões promocionais de “distribuição gratuita”. Cada um contou com uma tiragem de 5.000 exemplares. No verso, além da divulgação da informação sobre a imagem “Procissão Corpus Christi – São Gonçalo – RJ”, divulgava a logomarca de uma numismática do Rio de Janeiro. Há ainda um cartão que divulga uma imagem do Carequinha, incluída em uma série sobre o Circo e que foi editado pela TELERJ.

IMAGENS:

IMAGEM_01: Tradicional procissão de Corpus Christi em São Gonçalo – RJ. Sistema Telebras. 20 unidades. Acervo pessoal.


IMAGEM_02: Procissão Corpus Christi, São Gonçalo – RJ. Telemar. 10 unidades. Acervo pessoal.


IMAGEM_03: Receba o Circo de Braços Abertos. Carequinha. George Savalla Gomes. Foto: Arquivo FUNARTE. Telerj. 20 unidades. Acervo pessoal.


Bibliografia

Cartões telefônicos. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Cart%C3%A3o_telef%C3%B4nico Acessado em 15/08/2020.


CLUBE Filatélico e Numismático de Taquara/RS. Um pequeno resumo da história do cartão telefônico. Disponível em: http://www.cfnt.org.br/cartoes.html Acessado em 15/08/2020.

Telecartofilistas. Disponível em http://telecartofilistas.blogspot.com/ Acessado em 15/08/2020


Rui Aniceto Fernandes é professor de História do Departamento de Ciências Humanas (DCH) da Faculdade de Formação de Professores (FFP-UERJ).





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