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Silêncio

Por Sirley Teresa dos Reis


Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O neofascismo à brasileira tem produzido falsas ideologias de defesa da família e da propriedade ao mesmo tempo em que usa descaradamente a fé do povo no poder da Igreja para encobrir interesses puramente eleitoreiros e econômicos. Aqueles que se apresentam como representantes da moralidade, enriquecem de uma década para outra, transmitem cargos de pais para esposas, filhos, como se o bem público pudesse ser deixado de herança. Essa horda avançou sobre a educação pública.


Para manipular a consciência ingênua de parte da população, os líderes das hordas criaram mitos, semearam falsas verdades como ervas daninhas lançadas ao vento. Assim, enquanto 700 mil pessoas morriam (e boa parte delas poderia ser salva com a vacina), milhões de outras pessoas deixavam de vacinar seus filhos para “não virarem jacarés” ou terem “chips” instalados em seus corpos, em pleno século XXI.


O processo de destruição dos valores democráticos requer o acúmulo de forças em torno de objetivos comuns. Assim, para manter os seus privilégios, as elites dominantes criaram instituições especializadas na gerência da política educacional. Somou-se a atuação empresarial na definição da agenda educacional a terceirização do trabalho do professor e consequente enfraquecimento dos sindicatos. Outro recurso perverso foi a contratação de voluntários para atuarem na Educação Básica (CNE/Resolução nº 02, de 11/09/2008).



Aproveitando-se do Golpe de 2016 que derrubou a presidenta Dilma, democraticamente eleita, operacionalizou-se a reforma do Ensino Médio (Lei nº13.415/2017) que autorizou a contratação de pessoas sem formação pedagógica (donos de “notório saber”), nota-se que sem concurso público, o “amigo do rei” poderia ser indicado para atuar no lugar de professor concursado.


As lutas por hegemonia na área educacional estão claramente definidas: por um lado o sistema organizado e ativo formado pelos empresários (ocupantes dos centros decisórios do Estado) e de outro lado, grupos dispersos que engendram cada um a seu modo, formas de resistência, seja nos conselhos, conferências, sindicatos, os trabalhadores de educação tentam manter a consciência ético-política e o compromisso de desvendar as armadilhas do senso comum.


Se não conseguirmos avançar dois palmos adiante, superando nossas diferenças, o novo PNE (2024-2034) será outra coletânea de metas a não serem atingidas; os recursos públicos que financiam a educação serão geridos (completamente) pelos aparelhos privados. Cenário no qual as escolas públicas testemunharão a dor (de professoras chutadas por alunos) e a morte (de crianças, adolescentes e jovens, a caminho ou dentro da escola) onde deveria florescer a vida e a ciência.


Nos restará apenas o silêncio, porque já não teremos voz ou porque já não fará sentido para o ouvinte a afirmativa de que um outro projeto de sociedade é possível.


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Sirley Teresa dos Reis é Psicóloga, Assistente Social, Mestranda UFF e membra do Coletivo ELA – Educação Liberdade para Aprender e colaboradora da Coluna "Daki da Educação", publicada às sextas.





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