Respeito
SÃO GONÇALO DE AFETOS
Por Paulinho Freitas
Entro num carro de aplicativo na volta do trabalho. O motorista era um rapaz bem novo e muito falante. Depois dos cumprimentos ele já começa a contar história. Disse que antes de mim, tinha apanhado outro passageiro, um casal. O rapaz estava suando e sem a camisa, o motorista solicitou que ele a colocasse e o mesmo se negou, alegando que estava com calor, mesmo com o ar condicionado ligado, além do mais, estava pagando pela viagem e tinha o direito de viajar como quisesse.
O motorista explicou que por ele estar suado, mancharia o banco e o deixaria molhado, prejudicando assim quem viesse depois dele e ainda prejudicando o motorista que iria perder corridas e ainda teria que mandar lavar o banco para tirar a mancha. O rapaz disse que não poria a camisa sob nenhuma hipótese.
O motorista parou o veículo, cancelou a corrida e pediu para que o casal saísse de seu carro. O que fizeram sob protesto e prometendo reclamar com o aplicativo, além de lhe dar uma péssima avaliação.
Sem dúvida, uma grande falta de respeito daquele casal. Conversamos pouco sobre o assunto, chegamos ao meu destino, despedimo-nos com um desejo de bom dia mútuo.
Já em casa ainda refletia o assunto e me lembrei de um tempo em que fui cobrador de ônibus. Lá, nós cobradores, éramos humilhados pelos passageiros, pelo fiscal, pelo despachante e pelo patrão. Eu chorava todos os dias na roleta, mas tinha que suportar, precisava sobreviver.
Pensei também em outros prestadores de serviço como os trabalhadores no comércio, os atendentes etc. As pessoas pensam que o prestador de serviço tem a obrigação de servi-los de acordo com sua conveniência. A falta de respeito impera.
Daí lembrei também de quando trabalhei numa escola de circo. Certa vez entrou um menino com síndrome de Down. Ele não queria ser chamado pelo nome de batismo, queria ser chamado de Jorge, um personagem da novela das oito na época. Também usava o banheiro feminino e quando interpelado dizia:
_Eu sou menina!
Nunca vi nenhuma criança reclamar, achando aquilo um absurdo. Para elas, aquilo tudo era muito natural, não havia maldade. Não havia discriminação.
Certa vez fizeram, numa rua próxima, um campeonato para ver quem andava melhor com sapatos de salto alto. As meninas se esforçaram muito, mas quem brilhou mesmo foi o Cauã. Andou com desenvoltura, parecia ter nascido com aqueles sapatos de salto nos pés. Os meninos começaram a pular e a gritar:
_É campeão! É campeão!
Depois saíram correndo até a esquina e voltaram como se estivessem dando uma volta olímpica. Então se juntaram todos, meninos e meninas e foram gargalhando a caminho do circo.
O pior castigo que Deus pode dar ao homem é fazê-lo deixar de ser criança. Tudo seria tão mais simples e divertido. Haveria mais amor, mais alegria, mais RESPEITO!
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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.