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Presentes de Noel para São Gonçalo - por Mário Lima Jr.


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Papai Noel chegou a São Gonçalo com muita raiva, depois de três horas e meia de engarrafamento na Ponte Rio-Niterói e na Alameda. Na primeira parada, em Alcântara, onde também encontrou um trânsito terrível na entrada do bairro, o bom velhinho arrancou a parte de cima da roupa, que “pinicava demais”, e ficou seminu, xingando diante dos celulares apontados pra ele.


– Que calor infernal é esse, minha gente? Não tem sombra na cidade? Chega de sofrimento.

Noel fechou os olhos, levantou a cabeça, estalou os dedos e a Praça Chico Mendes foi ocupada por um enorme shopping center, logo batizado como Tacho Alcântara.


– Pronto, agora os gonçalenses têm um prédio com ar-condicionado pra fugir do calor.


Surpreendido pelo milagre, o povo perguntou se Noel poderia ter plantado árvores com um projeto paisagístico ao invés de construir outro shopping, já que Alcântara é um bairro apertado, desorganizado e nada agradável.



– Árvore dá trabalho, tem que podar, cuidar e varrer as folhas do chão. Concreto não traz problemas, os donos da Aliansce Sonae cuidarão de tudo – respondeu o bom velhinho, carregando o casaco vermelho pendurado no braço direito.


Depois das tradicionais poses na praça de alimentação com dezenas de crianças no colo, Papai Noel seguiu acompanhado pela comitiva para o centro da cidade e ficou surpreso com o que viu no caminho.


– São Gonçalo está meio sujinha, hein! Tem uma geladeira velha naquela rua lá embaixo, estou vendo daqui. E aquilo ao lado é um sofá, tenho certeza – Noel apontou pra fora da janela do carro.


– Não se preocupe com isso, meu amigo – desconversou o funcionário da Prefeitura sentado no banco do carona, responsável por acompanhar o convidado ilustre.


– Estou aqui a pedido do povo para ajudar no desenvolvimento do município. Claro que me preocupo!


Num transe parecido com o primeiro, batendo com força as duas mãos três vezes, Noel fez surgir centenas de caçambas de lixo em pontos estratégicos da cidade para o descarte de entulho, manilhas, móveis, barras de ferro, pneus e correntes. Era evidente a alegria do velhinho por fazer o bem.


– O que mais vocês querem? Atenderei mais uma necessidade deste povo tão sofrido – Noel segurava o microfone instalado em um palco na Praça do Rodo.


“Segurança! Educação! Emprego!”, responderam os presentes e Papai Noel começou a pensar. O Tacho Alcântara garantiria o emprego da população. O funcionário da Prefeitura disse que as câmeras recém-instaladas tornariam São Gonçalo mais segura e livre do tráfico. Só faltava cuidar da educação.


Na velocidade do pensamento, Papai Noel pintou todas as escolas do município e, como bônus, destruiu o Plano de Cargos e Salários da Educação, em vigor há 20 anos, com o intuito de tornar a legislação mais “ágil e moderna”. Sem compreender as ações de Noel, os gonçalenses voltaram para casa na esperança de um novo Natal.

 

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Mário Lima é escritor.



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