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Capote e as galinhas-de-angola - por Erick Bernardes


Foto: Reprodução
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Se existe um lugar capaz de deixar qualquer pessoa surpreendida é a localidade Capote. Encravado entre o bairro Tribobó e o Colubandê, a origem do nome chama mesmo a atenção. Jamais o leitor se daria conta, se não houvesse as explicações dos dicionários, ou se alguns materiais históricos não revelassem o real significado do termo. Capote não define um bairro, embora seja um lugar de habitação e também um curioso designativo de galinha-da-angola. Isso mesmo, pasme: gaaaaliiiinhaaaa d'angola! É isso que significa.


Ao vasculhar as páginas dos empoeirados dicionários de estante, o curioso cidadão lerá: Numida meleagris ou capote, capota, galinha- d'angola, galinhola, tô-fraco, galinha de guiné, galinha-da-índia, galinha-da-numídia, angolinha, angolista, cocar, cocá, coquém, galinha-do-mato, faraona, pintada, picota, sacuê e cacu. Pois é, só aqui temos à mão nomenclaturas aos montes para a avezinha engraçada.


Bem, deixando de lado as histórias de cocoricós, fiquemos com os registros sinceros dos bons livros de história. Sabe-se que, na região de nome estranho, houve realmente criações dessas aves de origem africana, contudo havia ainda uma antiga lagoa escura nomeada Capote, na qual desaguavam o Rio Muriqui e o Rio das Pedras. Fica-nos, portanto, o mistério no ar, pois a dúvida configura antigo adubo para confusões. Principalmente, se o leitor resolver buscar na internet dados mais consideráveis e descobrir sites sobre jacarés assassinos abocanhando quem mergulhasse nas águas da região. Os répteis mordiam e "capotavam" seus corpos rodopiando os torsos das vítimas que serviriam de alimento aos jacarés. Cruzes, que macabro, melhor fantasiar.

Voltemos à lenda sem receio. Talvez com boas linhagens cuidadas de galinhas do tipo capote, os descendentes dos antigos escravizados tenham dado esse nome ao lugar - diferente da história de lagoas infestadas de jacarés famintos. Sendo assim, fiquemos com as referências às inofensivas galinhas-da-angola.


>>> Publicado originalmente em 21/4/2019.


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Erick Bernardes é escritor e professor mestre em Estudos Literários.


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