Porto do Samba
SÃO GONÇALO DE AFETOS
Por Paulinho Freitas
Não faz muito tempo, mas sinto saudades como se fosse há anos atrás, compositores de São Gonçalo fizeram uma roda de samba onde só se podia cantar sambas próprios e inéditos. E começamos então a botar para fora todas aquelas canções que se amontoavam nas gavetas, suplicando para serem cantadas em público e receberem nem que seja um único aplauso sincero, de alguém que não nos conhecia e que achou valor em nossa obra.
Por ordem de chegada, cada um ia se apresentando e quando terminava, a alegria e a emoção estava estampada no rosto e carimbada no coração. Aquele momento se perpetuava na memória. O próximo a cantar queria fazer melhor que aquele que acabará de se apresentar e assim, sucessivamente.
Aquela roda era remédio para alguns, para outros, motivo para beber, outros ainda nos seguia por onde íamos, se tornaram fãs e nós éramos os mais felizes do mundo.
Começamos a roda no bar Café Com Bobagem, no Porto da Pedra e depois, na garagem do compositor Elmo Borges. Lá, certo dia, Jorge Padeiro cantava um belo samba em homenagem a João Nogueira, quando percebi um cara, ainda de macacão de trabalho, na porta, olhando embevecido. Fui chegando devagar e numa rápida conversa ele me disse o que eu já sabia, era um compositor, Cezinha do Banho era seu nome. Convidei para cantar, depois de muito relutar ele deu de mão no microfone e nos brindou com um belo samba e assim se integrou ao grupo.
Chegamos a fazer morada no Clube Cinco de Julho por algum tempo. Rejuvenecemos, nossas canetas adolesceram e a qualquer hora, a qualquer momento, bastava ouvir uma palavra, olhar uma lua saindo, um por de sol, uma florzinha na beira da calçada que uma nova canção surgia.
Como tudo que é bom tem um custo e o vil metal não tem nenhuma sensibilidade com a arte, tivemos que nos recolher. Nossos sambas voltaram para gaveta e aqueles momentos nos alimentam e deixam nossos corações cheios de paz.
Quando estou triste costumo rir mais que o de costume, quando estou feliz, as lágrimas descem por meu rosto, como crianças descendo o morro num carrinho de rolimã, felizes e sem imaginar um amanhã diferente.
Hoje estou feliz, muito feliz!
Obrigado meu Deus!
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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.