Policial assassino de Iago responderá por 'homicídio doloso com motivo fútil'
Jovem foi assassinado com tiro à queima roupa enquanto trabalhava vendendo balas na estação das Barcas em Niterói
Por Rodrigo Melo
O policial militar lotado no 7º BPM (São Gonçalo), sargento Carlos Arnaud Baldez Silva Júnior, que matou o vendedor de balas Iago Macedo de Oliveira, com um tiro no peito, em frente à estação das barcas, em Niterói, no início da tarde desta segunda (14), está preso e vai responder por homicídio doloso, quando há a intenção de matar, com motivo fútil e agravante.
O anúncio foi feito após longo depoimento na Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG) prestado pelo PM depois de ter sido preso em flagrante por policiais no Centro que atenderam a ocorrência.
Segundo relatos de familiares, Iago, que estava em liberdade condicional, trabalhava em companhia do enteado, de 14 anos, quando abordou um cliente que o chamou de ladrão.
Houve um início de confusão entre os dois quando, então, surge o PM, que inicia uma discussão com Iago, que rebate de modo acalorado a acusação proferida pelo homem momentos antes, e repetida pelo policial com a convicção dos irresponsáveis sem noção da responsabilidade que carregam sendo agentes da lei.
O sargento o agride com um soco na região do abdômen para logo em seguida sacar a arma e atirar à queima roupa no peito peito sem chance de defesa, cumprindo a sentença proferida por ele mesmo de pena de morte de mais um trabalhador, homem pobre e negro no Brasil.
O jovem imediatamente quedou para o lado e desabou no chão em frente à Bilheteria da Estação Arariboia, muito movimentada no início da tarde do primeiro dia útil da semana.
O projétil fatal atingiu a veia aorta do coração de Iago, que comemoraria junto à mulher, enteado e família o aniversário de dois anos de sua única filha nesta quinta (17), no Morro Boa Vista, onde moravam, após serem expulsos da ocupação do Prédio da Caixa, na Av. Amaral Peixoto, no Centro de Niterói, em 2019.
Os amigos de Iago, ao saberem da torpeza com o jovem pai, desceram o Boa Vista e iniciaram protestos em frente no entorno das Barcas, sendo duramente reprimidos pela Polícia Militar e Guarda Municipal, que se utilizou de spray de pimenta para dispersar a multidão em fúria que exigia Justiça para mais um corpo negro estendido no chão, banhando de sangue, pranteado por mãe e esposa, materializando o cancioneiro popular.
"Ah, é o meu guri!", poderiam ter dito.
A prefeitura de Niterói disse que vai providenciar o enterro de Iago Macedo de Oliveira.
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