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Pois é...

SÃO GONÇALO DE AFETOS


Por Paulinho Freitas


Foto: Pixabay
Foto: Pixabay

Numa tradicional família gonçalense, Aderbal, profissional liberal, religioso fervoroso, conservador, defensor da moral e bons costumes, casado com Adelita, dona de casa submissa e esposa dedicada, sonhava em ter uma filha, para alegrar o lar e futuramente, quando casasse, trouxesse os netos para perto dele, para que ele os ensinasse os caminhos de luz da vida, cujo os atalhos conhecia tão bem.


Ocorre que ele se esqueceu de combinar com o destino, pois a primeira gravidez lhe trouxe dois meninos, gêmeos idênticos. Feliz, mas determinado em ter uma menina na casa, pediu a Adelita mais uma tentativa. Como ela se submetia sempre às suas vontades  sem questionar, engravidaram novamente e novamente, apesar de todas as suas orações, o criador lhe enviou mais dois meninos, também gêmeos univitelinos.  



O tempo é o senhor de destinos e consegue apagar todas as frustrações, menos as de Aderbal. Depois de dez anos ele ainda se mantinha no firme propósito de ter uma menina e quis o destino que numa derradeira tentativa, seu sonho virasse realidade. Ela, recebeu o nome de Aleluia Flor. A vida de Aderbal era só alegria e parecia que a felicidade se instalara em sua vida para sempre. Ledo engano. Na verdade, sua vida virou de cabeça para baixo.  


Adelita descobriu que há anos, Aderbal mantinha um romance extra conjugal com uma funcionária. Só não se separaram por questões sociais. Não queriam o nome da família em “bocas de Matildes”. Na mesma semana o seu melhor amigo, Roberval, amigo, conselheiro, confidente e parceiro de longa data, dizem as más línguas que até frequentavam uma sauna masculina, lá no largo da Glória, no Rio de Janeiro, – cala-te boca! - morreu de uma terrível doença no coração, rara, hereditária e  fatal. Aderbal estava arrasado. 

 



Como tudo que está ruim pode piorar, os quatro meninos foram diagnosticados com a mesma doença de Roberval. A vontade de Aderbal era de matar Adelita quantas vezes fossem necessárias, até acabar com todo ódio existente no seu coração, mas não podia manchar sua imagem na sociedade e nem expor sua condição de marido traído. Então, ficou o dito pelo não dito e vida que segue. 


As famílias de Aderbal e Adelita  não se frequentam e não se suportam, mas, no natal, na grande ceia da Igreja, posam como família unida e feliz para aquela linda foto que irá para a posteridade e será destaque através dos tempos nos discursos das homilias, como exemplo de família a ser seguido. 


Na igreja, Aderbal e Adelita são a encarnação do espírito do amor na terra. Em casa, na hora de dormir há um breve diálogo, antes de virarem as costas um para o outro: 


Ele: _ Piranha! 

Ela: _ Corno! 


E assim se vai mais um domingo feliz, na vida daquela família exemplar. 

 

Ah meu São Gonçalo! Protegei os filhos da tua terra! 


Obs: Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança é pura coincidência. 


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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.


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