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Foto do escritorJornal Daki

Plano de governo de Dayse não passa do discurso ideológico, por Mário Lima Jr.


Romper com o sistema capitalista porque ele coloca o lucro acima da preservação da vida e do meio ambiente. É o que Dayse Oliveira, 54 anos, única mulher concorrendo à Prefeitura de São Gonçalo, propõe para a cidade. A opinião de Dayse sobre o capitalismo, que impacta diretamente a vida de cada gonçalense, não precisa de confirmação, basta olharmos pra fora da janela. Vivemos em um mundo de sofrimento. Mas romper com o sistema pode levar mais tempo do que direcioná-lo a favor das causas corretas.


Explorar o sistema capitalista a partir do modelo de negócios sociais para resolver os problemas da sociedade é ideia de Muhammad Yunus. Nascido em um país pobre, Bangladesh, os projetos de Yunus renderam a ele o Prêmio Nobel da Paz em 2006. Dialogando de forma imaginária com a candidata, e se o Prêmio Nobel for aliado do sistema capitalista? Embora a metodologia de Yunus tenha salvado vidas, Dayse, que já concorreu inclusive ao cargo de governadora do Rio de Janeiro, entende como necessário e inevitável o rompimento completo com o capitalismo.


Junto com o fim do sistema econômico dominante, Dayse defende o término do governo Bolsonaro, “para que a realidade nacional, estadual e municipal possa ser mudada de fato em favor dos trabalhadores e setores oprimidos da sociedade”. Dayse não cita qual seria o caminho mais curto para encerrar o governo. Ela critica inclusive medidas tomadas no Ceará e no Maranhão durante a pandemia, batendo no PT e no PCdoB, mas não diz o que faria a partir de 2021 em São Gonçalo, com ou sem pandemia.

No capítulo intitulado “São Gonçalo, uma cidade negra e periférica na região metropolitana”, a candidata do PSTU demonstra intimidade com a cidade. Dayse mostra números, estatísticas sobre emprego e renda extraídas do IBGE. É o ponto alto do documento. Sem enxergar a realidade municipal através da ciência, nenhum candidato será capaz de contribuir para uma cidade melhor. A questão é responder o que fazer, por exemplo, para aumentar a renda per capita dos gonçalenses que sobrevivem com metade de um salário mínimo. Não é uma pergunta fácil, por isso existe o plano de governo. Dayse não responde.


Em seguida, o documento sofre a revolução que Dayse prega para São Gonçalo. Defende a estatização das grandes empresas sob o controle dos trabalhadores. A formação de conselhos populares, com poder deliberativo acima das câmaras municipais, para governar as cidades e o Brasil (essa intenção explica por que o PSTU só tem um candidato a vereador em São Gonçalo). A municipalizalização de todas as unidades de saúde abandonadas do município. O funcionamento imediato da Policlínica do Vila Três. E, como num passe de mágica, a construção da Linha 3 do Metrô e da estação de barcas em São Gonçalo.


Será que a Linha 3 seria construída na primeira semana de janeiro de 2021, se eleita? Ou uma semana depois? Um plano verdadeiro lista as ações necessárias para que algo aconteça, com estimativas de quando acontecerá. Um plano considera riscos. No projeto de governo de Dayse não há riscos mencionados, desde que o capitalismo seja derrotado pelo socialismo.


Dayse aproveita o documento para exigir ainda o fim do genocídio da juventude negra. Ninguém que conheça e ame o povo brasileiro poderá discordar. O problema é que os jovens negros não serão salvos sem políticas públicas estratégicas e o plano de Dayse não detalha absolutamente nenhuma.

Mário Lima Jr. é escritor.




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