Pitoco, por Fábio Rodrigo
O passante percorria uma das avenidas mais movimentadas da cidade. Estava caminhando em direção ao seu trabalho. Ao se deparar com um jovem negro que vendia balas na calçada, resolveu interpelá-lo:
‒ Qual o seu nome?
‒ Pitoco.
‒ Eu quero saber o seu nome e não seu apelido... – redaguiu em tom de ameaça.
‒ Pitoco.
‒ Tudo bem. Então seu nome é Pitoco mesmo né?
‒ Sim, senhor.
‒ Então tá. Qual sua idade?
‒ 13 anos.
‒ E você estuda?
‒ Não. Só trabalho.
‒ E seus pais?
‒ Que que tem?
‒ Eles trabalham também?
‒ Não tenho nem pai nem mãe não. Eu trabalho pra me sustentá.
‒ Você mora com quem?
‒ Com meus irmão.
‒ Vocês moram onde?
‒ Naquele morro ali. – apontou para uma favela bem no alto do morro.
‒ Mas você não acha que deveria estar na escola pra aprender e ter uma profissão?
‒ Acho que sim mais acho que é muito fácil falá que nós num tem profissão porque nós num tem estudo e ninguém se coloca no nosso lugar num é porque você teve estudo que nós tem que tê as oportunidade é diferente ninguém nasce cum as mesma oportunidade cê tá entendendo? Vocês bacana deveria entendê nosso lado mais vocês acha que nós é que num qué sabê de estudá e trabalhá mais nós qué sim e por isso eu tô aqui vendeno minhas bala pra ganhá meu pão de cada dia e tive que pará de estudá pra podê trabalhá e num passá fome.
E assim o Pitoco deu uma aula de como funciona a sociedade.
Fábio Rodrigo Gomes da Costa é professor e mestre em Estudos Linguísticos.