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Foto do escritorJornal Daki

Obras debaixo da terra não dão voto, por Oswaldo Mendes


Imagem: Reprodução Internet
Imagem: Reprodução Internet

Ditos populares que nos acompanham e tais se fazem verdade.


As mudanças acontecem em sua volta de forma rápida. Olhamos e verificamos que do bairro de Santa Catarina ao Rodo de São Gonçalo, no último meio século, só permaneceram quase “intactos” a padaria, o complexo do Pronto Socorro Central, o abrigo, o INSS, a Prefeitura e, no máximo, umas três lojas. Tudo mudou muito e, na grande maioria, desapareceu.


“Tudo passa. Nada permanece” - (“Ta panta rhei kai ouden menei”). Essa frase li em um livro de Monteiro Lobato na minha infância. Coleção doada pelo nosso saudoso pai, o qual tinha o ensino fundamental incompleto, mas sabia da importância de se ler e livros não faltava em casa. Isso também passou.


As mudanças estão muito próxima a nós, porém sempre há resistência ao novo. Analisar a Gestão da Mudança e suas fases é muito interessante.


1- Percepção da necessidade de mudança.

2- Diagnóstico, análise dos riscos e ameaças. (matriz SWOT)

3- Planejamento do processo de mudança organizacional. (Ciclo de Deming – PDCA).

4- Sensibilização e engajamento das equipes.

5- Capacitação e treinamentos.

6- Início das mudanças, monitoramento dos resultados e ajustes.


O medo do desconhecido é um aliado do ser humano e o acompanha desde os primórdios. A mudança tem que vir sempre acompanhada de uma ou mais necessidades, de anseios.


“Aquilo que não é visto não é lembrado” é outra frase de cunho popular que nos acompanha, que rege as redes sociais e muitas decisões políticas partidárias ou de políticas administrativas.


Lembramos da época em que a cidade tinha diversas ruas de calçamento de paralelepípedos, isto há, em torno de, uma década. Esses calçamentos advinham de tecnologia utilizada na cidade nos idos dos anos cinquenta em diante; com o início de obras de saneamento, com a canalização de esgoto para os rios e córregos da cidade, decretou-se, assim, a morte dos mesmos e da Baía de Guanabara, principalmente com o que era jogado nos rios sem nenhum tratamento.


Empregava-se muitas pessoas. Lucrava-se muito financeiramente. O Meio Ambiente era continuamente agredido e a qualidade de vida das pessoas tornou-se muito baixa. Rios viraram lixeiras e a baía, uma central de esgoto. Era o modelo de sucesso.


As pessoas já não andavam mais na lama. Ruas com paralelepípedos era a solução e frases como “Sábado é dia de inauguração” era muito ouvida na cidade.


As pessoas já não precisavam sair de casa com dois sapatos: o da lama e o do trabalho, mas os paralelepípedos, que em função da modelagem, absorvem em torno de 50% da precipitação de chuvas que aconteciam, já não era bem visto. Havia muitas reclamações de entorses de pernas, principalmente de mulheres com sapato alto. Era uma necessidade de uma quantidade gigantesca de votos.


À beira de uma eleição, a cidade foi banhada de asfalto. Era o que a população pedia e era uma eleição ou reeleição garantida. Asfalto sobre paralelepípedos.


Os técnicos avisaram aos políticos e à população que, seria também necessário revisão daquilo que estava debaixo da terra, o sistema de drenagem, e que para cada ação acontece uma reação, ou poderíamos informar sobre o Diagrama de Ishikawa, das Causas e Efeitos? O banho de asfalto se tornou realidade e, também, o alagamento de diversas vias públicas.


Ressalte-se mais um agravante com relação aos alagamentos que explodiram em toda a cidade. Em função da falta de tratamento de esgoto (uma fossa séptica de dois estágios instalada nas residências já muito melhoraria a DBO), mas a conceituação de que as pessoas são responsáveis por tudo o que produzem é deixada de lado e, assim, todos perdem.


E eis, assim, nosso estágio atual. Ruas totalmente impermeabilizadas, morros desmatados e queimadas constantes, sistema de drenagem insuficiente, assoreamento dos rios, ocupação das margens dos rios e extinção da mata ciliar, águas pluviais não são separadas do esgoto, o qual só tem 16% de tratamento numa cidade de mais de um milhão de pessoas e sete bacias hidrográficas completamente agredidas diariamente.


Dragagens de rios e córregos da cidade é uma solução parcial. O desmatamento dos rios, a inexistência/ocupação daquilo que seria área para as matas ciliares, níveis muito baixos de educação e a miséria fazem de uma possível solução à inclusão de variáveis muito complexas.

Fizemos esse introito para buscar outra correlação que muito acontece, nesse caso até mesmo por desconhecimento e, também que, aquilo que não é visto, não é lembrado.


Sempre ouvimos falar de pessoas que levaram descargas elétricas em suas residências ou no trabalho, assim como perdas de objetos de valor, tais como televisão, geladeiras, computadores, máquinas de lavar e outros.


Crianças em creches que colocaram os dedos nas tomadas - quem nunca ouviu? Mas a resposta é a mesma, que os políticos são acusados, pois obras debaixo da terra não dão voto e, dessa forma, obras internas nas paredes são deixadas de lado.


Quem trata de sua parte elétrica da casa, como a pintura anualmente? A eletricidade das casas e empresas sempre é deixada por último. Primeiro a aparência do piso escorregadio que leva muitos às emergências de hospitais, mas a fiação, como não é vista, não tem valor. Revisão da parte elétrica é sempre deixada de lado, pois não dá voto.


As pessoas chegam ao ponto de colocar extintores nas empresas por pura obrigação, mas não tem quem saiba operá-los, o que é obrigatório, e assim aplicam extintores classe A – água - num incêndio elétrico.


COSCIP – Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico - é um grande palavrão para a maioria, seja pelo desconhecimento ou por ser a segurança considerada custo.


As empresas de energia elétrica não são responsáveis, em tese, por danos em aparelhos elétricos advindos de surtos, pois há muito tempo já existem legislações, tecnologia barata e disponível para todos que pode ser procurado por três letrinhas: DPS – Dispositivo de Proteção Contra Surtos (raios).


O mesmo acontece para “choques elétricos” – Descargas Residuais – DR, os quais os interruptores DR são obrigatórios em áreas molhadas das empresas e residências, por legislação em vigor desde 2015.


“Aquilo que não é visto não é lembrado”, mas tem efeitos e, alguns, marcam a vida de todos. Uma causa sempre produz efeitos, mais uma vez.


Notem que muitas das mesmas pessoas que hoje reclamam dos alagamentos foram elas que pediram o asfaltamento das ruas, mesmo avisadas que depois alagariam; que chamam os políticos de ladrões, mas aceitam uma pequena quantia monetária em troca do seu voto; que desmatam e jogam lixo nas ruas e reclamam da sujeira na cidade; que se omitem das eleições, da vida da cidade, e condenam Pôncio Pilatos.


Não estamos sugerindo com isso que deixem de pintar a casa neste final de ano, mas deem uma olhada no quadro elétrico da residência, da empresa, da escola de seu filho e verifiquem se há DR e DPS nos mesmos instalados, pois são baratos e certamente valem muito menos do que uma vida.


Quanto vale uma vida? Vamos continuar “cozinhando o galo em fogo baixo”?


“Navegar é preciso”


Ferrão é eterno! Ninguém enterra a Luz.


Isso vai passar. Cuidem-se mesmo.

Oswaldo Mendes é engenheiro.




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