O Tempo não para e o Deus Chronus não perdoa - por Oswaldo Mendes
Há mais de sessenta anos estava nascendo nesta cidade, a qual afirmo que adoro, quase às margens do Rio Imboassu, ainda límpido, e muito perto da linha férrea que é, e sempre foi, odiada por muitos.
São Gonçalo é uma das poucas cidades a qual é banhada pelo mar e tem sua igreja matriz no interior. Gonçalo Gonçalves é figura desconhecida pelos que aqui residem, poucos por opção, muitos pela necessidade e propaganda negativa institucionalizada para manter em baixa a estima dos moradores. Tudo é calculado. Nada é sem motivo. O que significa a data 6 de abril de 1579?
Políticos sempre brigaram pelo quantitativo de pessoas da cidade e, logicamente, por mais verbas. Bradar que tem um milhão e meio de moradores é praxe, mas daí tentar trazer melhor qualidade de vida, é completamente outra história ou estória, pois educar e dar capacidade de crítica às pessoas não é interesse do sistema. Néscio não sofre!
Da linha férrea foi incentivada a invasão, por motivos óbvios, e o aumento da dificuldade para trazer o projeto de transporte de massa para a cidade. Em todo o pleito aparece as promessas de metrô e agora já adequada aos interesses dos empresários de ônibus, enterrando por vez o transporte de massa, pois, onde a linha 4, na zona sul do Rio, ficou na frente da Linha 3, em São Gonçalo. Quanto vale seu voto.
Partes da cidade foram perdidas e até hoje não bem esclarecidas. Barreto, Praias oceânicas, Ilha Fiscal, Ilha Redonda e outras. Tudo muito nebuloso. Quem sabe o nome do prefeito da legislatura de 1935? Quem sabe o que ele fez?
Enfiaram pela nossa goela abaixo coisas como a Niterói-Manilha – um dique inverso, a piada denominada Porto da Praia da Beira, e um monte de favelas – sem a mínima estrutura para as pessoas que ali vieram morar.
Baixa escolaridade da população, sem áreas de lazer, espaços públicos poucos e com dificuldade de acesso. Nossa montada realidade.
O Programa de Despoluição da Baía de Guanabara nos deixou carcaças. A ETE Pedrinhas não funciona para seu fim, mas já foi reinaugurada inúmeras vezes e a população joga seus resíduos naquilo que um dia foram rios e córregos limpos.
Desmatamento, assoreamento, fim das matas ciliares, aterros irregulares, omissão do Poder Público - tudo se liga.
Não há separação das águas pluviais – de chuva, com o esgoto, os quais drenam sob o manto de tubos de cem milímetros, sem qualquer tratamento para a Baía.
Transporte hidroviário para outras cidades partindo de São Gonçalo? Nem pensar nesse palavrão! Há um lobby muito forte para que isso nunca aconteça, pois desapareceria o Centro de Niterói e todo o comércio por lá existente.
Para ganhar votos fáceis e sem responsabilidade, com a autorização de uma população que desconhecia seus efeitos – foi impermeabilizada as ruas sem as devidas adequações. Obras politiqueiras. Causa e efeito. Hoje alaga-se tudo e espera mais um milagre ou milagreiro de plantão, o qual, mais uma vez, aparecerá nas próximas eleições.
Pelo direito de ir e vir – e votos fáceis, não cito as barricadas, mas sim os quebra-molas ilegais e fora da legislação nacional. Será que ninguém leu e entendeu a Resolução DENATRAN nº 600, de 24 de maio de 2016? Fora os buracos da cidade tem um monte de gente que defende esses “buracos pra cima”, quase a totalidade sem a devida sinalização horizontal e vertical, ainda completamente fora de padrões. No mínimo estranho.
A ciclovia. Quem se lembra? Voos livre na Serra de Itaúna que a violência extinguiu. O Piscinão e a eterna má-gestão e abandono. Quantas tristezas!
O teatro municipal foi reinaugurado pela terceira vez, agora com público. Ao menos nessa área tem gente que vive e sempre trabalhou pela cidade. A população esperou quase quinze anos pelo teatro municipal, o qual não saiu nada barato.
Como citei Cultura, fico abismado com nosso patrimônio tombado de mentira, pois a cidade não tem um “Livro do Tombo”, o qual daria as diretrizes do patrimônio citado, logo, aí temos mais outra lacuna, em palavras mais dóceis – a qual não é nossa realidade.
A coisa que dá mais lucro no mundo é a guerra e a segunda é o turismo. Estamos em guerra e somos o alvo. Quem recebe os lucros não mora aqui. A violência também é um projeto. Não foi sem motivos que trouxeram diversas favelas para cá, isto no período militar. O Estado só vem aqui para levar almas.
A população tem baixa educação, altos níveis de violência de todos os tipos, alto nível de desemprego, baixa remuneração e dá o troco em cada esquina da cidade onde jogam seus resíduos, acompanhados por donos de comércio que não moram na cidade.
A GRES Unidos do Porto da Pedra sempre levou e leva uma imagem positiva da cidade para o Mundo, mas quase todas as gestões municipais que passaram a abandonou, seja por motivos religiosos ou por questão de caráter, inclusive.
A Umbanda nasceu em São Gonçalo e ainda não se tem valorização disso.
Há boas leis que foram propostas criando serviço municipal gratuito de coleta de resíduos de construção civil e outras para munícipes que precisam, mas não foi implementada. Há muito o que se fazer e o lençol – dinheiro – é muito curto.
Nos idos dos anos 2000, iniciou-se uma luta pelo Plano Diretor da cidade e em 2009 foi publicado, com prazos longos para sua revisão. Não foi por falta de aviso que o mesmo caducou e a população não sabe para que serve. Estamos sem Plano Diretor há mais de dois anos.
Triste é afirmar que estamos deixando para nossos netos uma cidade bem pior do que nossos avós nos deixaram. Como mudar esta história para que se tenha um final feliz? Educação&Cultura.
Houve pessoas que estiveram no Poder da cidade e, ao menos, tiveram boa vontade, outras se locupletaram. Tentar fazer o melhor pela cidade é ato de poucos e destes alguns amigos. Também, muitos enganadores estiveram no Poder e dele recebem o que merecem. Há bons indicadores para que o Governo atual possa deixar uma marca positiva na cidade. Aguardamos ansiosos, mas Chronus é ingrato!
Oswaldo Mendes é engenheiro e sambista.