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O que você quer ouvir de mim

Foto do escritor: Jornal DakiJornal Daki

Por D.Freitas

Imagem: Bing
Imagem: Bing

A verdade é que nenhum homem presta. Essa frase pode gerar a ojeriza aos que partilham comigo o fato de ter um falo e se identificar com o gênero masculino, e pode gerar estranheza à maioria do sexo oposto, pois não é algo que costumeiramente sai da boca de um homem.  Pode também parecer um pedido desesperado de atenção, uma tentativa de parecer diferente ou até mesmo uma espécie de armadilha para parecer um hétero que coloca flores no cabelo e veste saia (Você sabe do que eu tô falando). Contudo é somente a verdade. Uma verdade abrangente quando falo sobre os outros homens, pois não posso ter certeza desse fato sobre todos, mas absoluta quando se trata de mim. 


Eu não presto.


Dizem que a maioria das mulheres fingem orgasmo. Eu finjo interesse.  Finjo a falta de controle. Finjo trepidar os dedos. Finjo até mesmo gostar do jeito desengonçado que a gente se encaixa... Não preciso fingir que, fisicamente, ela realmente me excita. Todo seu corpo é moldado por uma genética impecável e um tratamento constante em academia, Pilates, dança e afins. Seus cachos, que costumeiramente estão presos quando vai dormir, se encontram soltos pois se libertaram há alguns minutos quando começamos a mostrar as intenções que tínhamos em perder alguns momentos de sono no meio da semana. Ela sorri enquanto goza e essa cena se emaranha em minha mente. Consigo me lembrar de cada vez que isso aconteceu. Ocupou o espaço das fórmulas de matemática no ensino médio, da história do fundamental e das vezes que eu deveria lembrar que o arroz estava no fogo. Ocupou o espaço que eu deveria gastar pensando em um hobby fora do nosso relacionamento, no futebol das quartas ou preocupado com o PIB do Brasil. Ocupou o espaço onde um dia deveria ter sido reservado à ousadia e ao desejo que deveria ser direcionado à qualquer coisa ou pessoa que não fosse ela. 



Se não fosse o jeito que ela se levanta pra sair de cima de mim e caminhar até a porta, provavelmente, o que eu tenho, teria uma cura. Me perco olhando, ainda meio zonzo, seu caminhar até a porta do quarto iluminada pela luz do poste que entra pela janela do quarto. Sai sem nada. Revivo os momentos recentes enquanto meu corpo volta a esfriar um pouco. Escuto o som dela no banheiro, bebendo água e brincando com o cão. Não escuto seus passos. Volta vestindo uma camisa do time que ela escolheu pra eu torcer. 


É de consenso que as camisas masculinas vestidas pelas amadas são mais provocantes do que qualquer lingerie. Não olha pra mim enquanto volta pra cama. Deita de costas. Dorme sem me desejar boa noite. Tento pensar no que eu posso ter feito de errado. Vou fazer um excelente café da manhã... Espero que não precisemos revirar esse assunto quando o Sol raiar. Seja lá o que eu tenha feito. 


A abraço. Ela puxa meu braço pra que eu chegue mais perto. Beijo sua nuca e sussurro:


-Perdão.


Seja lá o que eu tenha feito. 


Sua resposta vem com um silêncio e um aninhar do seu corpo mais próximo ao meu.


Dizem que misericórdia é uma dádiva concedida por poucos deuses.


Então me considero um homem de sorte.


Ponho-me a dormir.


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Davi Freitas (D.Freitas) nasceu em São Gonçalo, cria da cultura gonçalense, desde sempre conviveu com músicos, poetas e escritores. autodidata, aprendeu violão e bateria sozinho e junto com o irmão Lucas Freitas fez algumas apresentações até ter, por motivos profissionais, que mudar de estado. Como escritor, participou, pela Editora Apologia Brasil da Antologia em Tempos Pandêmicos e inicia agora sua trajetória no mundo das crônicas e contos. 



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