O prêmio, por Fábio Rodrigo
Ele estava em seu apartamento quando o porteiro do seu prédio lhe comunicou o recebimento de uma correspondência. Foi avisado que era uma caixa bem pesada e se tratava de um prêmio obtido em um concurso nacional. Ele achou muito estranho, pois não se lembrava de ter ganhado nada. E deu risadas da situação, pois nunca conseguiu ganhar uma rifa, que dirá um concurso nacional. Desceu e conferiu na recepção do prédio. Realmente estava com seu nome, e o endereço estava correto.
Levou a caixa para seu apartamento e verificou o remetente. Era um endereço de São Paulo. Bastante intrigado, abriu a caixa para ver o que era. Era um televisor de 14 polegadas. E daqueles bem antigos. Do tempo em que os televisores tinham um botão giratório para ajustar a sintonia. Quem é desta época vai se lembrar do que estou falando.
Ele, no entanto, não entendia o motivo de este aparelho chegar às suas mãos. Não poderia ficar com algo que não era seu. Imaginou ser um engano. Pensou em entrar em contato com o telefone que estava na caixa. Para se ter uma ideia, tudo era tão antigo que o número tinha ainda sete algarismos. Pelo menos o endereço conferia. Descobriu pela internet que era de uma antiga fábrica de achocolatados em pó. Foi aí que ele se deu conta. O aparelho era um dos prêmios de um grande concurso realizado nos anos 80. Seus olhos se encheram de lágrimas neste momento. Lembrou de ter participado do concurso para concorrer a vários produtos, como televisores, videocassetes, aparelhos de som. Ele era criança e não imaginava que um daqueles prêmios seria seu.
Pois é. Depois de muito tempo, o seu prêmio chegou. Não quis saber por que levaram tantos anos para lhe entregar este prêmio nem como acharam o seu endereço. O que ele mais queria agora era poder ostentar a todos que ganhara um concurso nacional. Pensou no quanto seus pais, se estivessem vivos, ficariam felizes em saber que ele ganhou este prêmio. Afinal foram eles que gastaram muito dinheiro para comprar a enorme quantidade de latas do achocolatado. Pensou no quanto valeu a pena dispensar várias horas para preencher centenas de rótulos do produto e depositá-los um a um nas urnas espalhadas pelos supermercados. Era hora de se encher de orgulho e dizer que o prêmio era dele.
Tratou logo de reservar um lugar de destaque na sala para acomodar o seu prêmio. Sua esposa e seus filhos acharam loucura da parte dele querer abrir mão de uma TV de plasma para pôr em uso uma TV tão antiga. E ele foi logo engatando na tomada, ajustando a antenas para captar sinal, sintonizando os canais. O chiado que a TV fazia não desanimava o nosso personagem.
Depois de muitas tentativas frustradas, ele seguia confiante em vê-la funcionar. Cada ajuste que fazia na antena gerava uma nova expectativa. Sua esposa e seus filhos já haviam desistido da ideia de esperar pelo funcionamento da TV. Porém, ele, bastante animado, dizia: “Agora vai! Agora vai!”
Fábio Rodrigo Gomes da Costa é professor mestre em Estudos Linguísticos.