O perigo, não aparente, surgiu a partir da transferência do Carnaval - por Oswaldo Mendes
Ao anoitecer do dia 21 de janeiro de 2022 iniciou-se uma série de mensagens em grupos específicos de Samba onde afirmava-se da transferência do carnaval das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo para abril deste mesmo ano.
No Mundo do Samba, a Academia está presente e vive dentro dele, como um ser vivo de experiências político-sócio-ambientais, retroalimentando-se, numa simbiose perfeita, assim as informações ligadas às questões sanitárias são sempre buscadas, refinadas e apresentadas após a certeza, para assim não se dar lastro das malignas mensagens falsas (Fake News). O Mundo do Samba respeita todas as normas sanitárias e tem muita gente que vive e dali tira seu sustento honestamente.
Mais estranho ainda foi quando as mensagens diziam que uma rede de comunicação repassava as mensagens afirmando sobre o adiamento do carnaval e que tínhamos indicadores sobre a fluência da pandemia sendo acompanhada por equipes sérias e competentes.
No final veio a confirmação do adiamento, mas também não expuseram os motivos, os quais não foram baseados na ciência da saúde humana, mas sim na economia (leia-se lucro) de empresas e pessoas que detêm o controle dos camarotes e das cotas de transmissão. Lucro puramente financeiro. Usaram o vírus, criaram incertezas, decepção e milhares de desempregados. A live realizada pelo site Carnavalesco foi pontual e esclarecedora.
O inimigo era outro, o qual agiu silencioso e na estrutura de Poder. Enquanto isso, os néscios riem como hienas, retroalimentados pelo ódio, ignorância, hipocrisia, racismo e Neonazismo por ditos interpretadores de um ser supremo. Omissos, sempre agindo como Pilatos, querendo levar alguma vantagem no processo. “Capitães do Mato” esses não têm caráter. Se vendem por moedas.
O pior é que eles não veem que serão os próximos da lista. Batem palmas para o próprio algoz e tiram selfies com o seu carrasco junto ao cadafalso.
É claro que a questão da incerteza da pandemia afastou interesses econômicos, mas isso era para ser previsto na “Análise de Risco” do negócio ao se fazer o contrato ou adquirir os camarotes e frisas para serem repassados e como “deu ruim” pressionaram as autoridades para que fosse transferido.
Mas que risco há nesse fato da transferência do carnaval por motivos econômicos de pessoas e empresas?
Abriu-se a exceção. Daqui para frente não será mais exceção quando em qualquer evento público ou privado, as empresas decidirem transferi-los por motivos econômicos (por exemplo, não se conseguiu totalizar a venda de ingressos). Parece absurdo, mas é a nova realidade. A data do carnaval e demais festas marcadas pelos interesses das empresas, podendo ser transferidos para qualquer data, sem nenhum prejuízo à contratada.
Não será mais absurdo no próximo ano termos contratos onde cláusulas tenham a possibilidade da transferência do carnaval e outras datas festivas. É o dinheiro controlando totalmente a Sociedade, a qual não consegue entender e pensará que foi por motivos sanitários a transferência. Bobinhos.
Eventos que sejam efetivamente lucrativos aos olhos dos verdadeiros mandatários serão mantidos e outros simplesmente descartados ou transferidos. Viva o Modernismo.
Ficou bem claro nesse evento que farinha pouca, o meu pirão é o primeiro mesmo. Os outros que passem fome e curtam a indecisão e o desemprego. Empatia não houve nesse processo. Decisão puramente política, unilateral e econômica.
O Mundo do Samba colocou seus ovos numa única cesta. Erro grosseiro e infantil. Uma empresa de televisão dá o norte e decide o destino do Samba.
Qualquer evento de agora em diante poderá ser transferido ou cancelado, isto a gosto da rede de comunicação ou assemelhados.
O Samba muito cedeu, se adaptou, para estar como produto vendável, exposto nas mídias pelos belos corpos, sempre malhados e televisivos, dentre outros. A Comissão de Frente não é mais a Galeria da Velha Guarda. As Alas Exibição foram trocadas por Rainhas e Reis, deixando assim a lacuna do Povo. Horários dos desfiles foram diminuídos e adaptados aos interesses das televisões. Escolas com bandeiras de “menor peso” não são televisionadas. Tudo isso depois que o visual virou quesito.
Nas praias, diversos shows de todas as linhagens, desde Gospel, passando por Sertanejos a MPB’s onde se recebe imagens de milhares de pessoas e sem nenhuma crítica com relação às questões sanitárias que tanto muitos apontam o dedo para às Escolas de Samba, como se o vírus apenas se disseminasse em eventos de preto.
Claro e óbvio que a pandemia não acabou, deve-se seguir todas as regras de segurança, vacinar-se, não se aglomerar e usar máscaras. Isso o Sambista cumpre e vai continuar cumprindo rigorosamente. O Samba é exemplo.
Certamente, neste momento crítico, é o momento para relembrar o esforço dos nossos antepassados, da Tia Ciata e o saudoso Sargento Nelson, com sua magistral poesia e discernimento e cantar: “Não deixe o Samba morrer. Não deixe o Samba acabar”.
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Oswaldo Mendes é engenheiro e sambista, não necessariamente nesta ordem.