O Brasil influenciou os azulejos portugueses
Por Lucas Fortunato
Distintos elementos arquitetônicos e artísticos vieram para o Brasil por influência estrangeira. Nossa cultura, de forma geral, é resultado de encontros entre vários povos, etnias e suas práticas e expressões. No caso dos azulejos, a origem remete à Península Ibérica, com destaque para os portugueses que os trouxeram e incorporaram às construções em solo brasileiro já a partir do século XVI.
O uso dos azulejos era comum no interior das edificações na Europa, e foi introduzido na Arquitetura de nosso país principalmente para compor o espaço interno de igrejas, residências e edifícios oficiais, sendo um dos itens mais recorrentes nas construções até o século XIX. Nessa mesma época, porém, uma curiosa inovação foi concebida em seu uso, aqui em nosso território.
São Luís, capital do Maranhão, com um riquíssimo patrimônio histórico e cultural, tornou-se uma das cidades mais ricas do Brasil no século XVIII, cenário que encontrou seu ápice no século seguinte, principalmente por conta da produção e exportação de algodão, além do tráfico de escravizados.
É nesse contexto que os azulejos passam a ser utilizados nas fachadas urbanas, isto é, no exterior das construções. Essa escolha reflete tanto uma preocupação com sua preservação, visando protegê-las das fortes e intensas chuvas da região, mas também uma inovação estética na ornamentação arquitetônica. Por isso, várias edificações da época, com as fachadas azulejadas, foram tombadas por sua importância histórica.
Foi a partir daí que a prática de empregar os azulejos como revestimento externo se difundiu para outras cidades, com ênfase no litoral brasileiro, como Belém, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e Porto Alegre. O apreço pela nova forma de decoração foi tamanha que a moda foi “exportada de volta” para os portugueses e tornou-se comum também em territórios europeus. Uma verdadeira “inversão de influências”, nas palavras de Santos Simões, um dos maiores especialistas da azulejaria luso-brasileira.
Os azulejos acabaram se tornando uma marca da colonização portuguesa e aparecem tematizados em muitas obras de artistas contemporâneos, como as de Adriana Varejão. A artista os invoca recorrentemente em suas composições e nos permite refletir sobre as relações entre a história e a herança cultural do nosso país.
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Referências:
SILVA FILHO, Olavo Pereira da. Varandas de São Luís - gradis e azulejos. 2010.
SIMÕES, João Miguel dos Santos. Azulejaria portuguesa no Brasil. 1962.
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Lucas Fortunato é professor de Arte, pesquisador no campo do Cinema-Educação.