top of page

Não tenho seu nome, sobrenome, apenas seu telefone

Foto do escritor: Jornal DakiJornal Daki

Por D.Freitas

Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Normalmente é difícil me reconhecer no espelho sem óculos, contudo hoje está um pouco mais complicado. Não sei se é pela noite mal dormida, pelo excesso de álcool ou por ainda não ter lavado meu rosto nas águas sagradas da pia. Alguma mancha no reflexo também turva a minha imagem. Molho as mãos e apago seja lá o que estivesse ali com alguns movimentos. Era algo seco e denso, quase como tinta.


Meus olhos começam a se acostumar com meu rosto, os fecho e mergulho a face nas minhas mãos, em concha, com água. Nesse curto momento de pouco respirar, me lembro dos momentos passados recentes em que fiquei sem ar. Lembro do R&B tocando ao fundo enquanto ofegantes trocamos olhares e sorrisos orgulhosos do que fizemos. Deveríamos manter isso vivo em nossas memórias até se apagar e quando se apagasse faríamos tudo de novo, mesmo que tenhamos sido só um caso. Só o acaso.



Por acaso, me lembro também de a ver se arrumando na frente do espelho. Colocando a roupa lentamente como se soubesse que eu a assistia e se maquiando rapidamente, pois parecia ter lembrado de algum compromisso. Me olhou encostada no vão da porta. Hesitou em se despedir. Talvez soubesse que eu estava só fingindo estar dormindo e como eu, concordou que seria melhor simplesmente sair daquele quarto abafado e evitar esse adeus, para que ele não se tornasse um até logo. Relutei em despertar tempo o suficiente para que ela saísse pela porta e me levantei mudando de ideia sobre não mantermos contato. O corredor vazio respondeu que ela não mudou.


Caminhei até a pia.


Agora ao abrir os olhos, após pensar nos últimos minutos dessas inesquecíveis últimas horas, encontro seu batom deixado sobre a pia e as manchas no espelho de algo que havia sido escrito com ele. Talvez fosse um número, seu nome ou talvez apenas um recado.


Independente do que fosse, me culpo por ter perdido por descuido.


No entanto, ela também foi descuidada e acabou deixando pra trás o seu telefone celular e eu o pego no intuito de conseguir ligar para algum número que possa me levar até ela, quem sabe com a desculpa de devolver o aparelho. No entanto, não sei como desbloqueá-lo.


Passo alguns minutos encarando seu fundo da tela de bloqueio onde mostram mais coisas que temos em comum além de nos encaixarmos perfeitamente.


Julgo que tudo isso seja só a emoção da primeira vez tendo sexo casual, mas uma parte de mim certamente ainda quer saber seu nome, sobrenome e como encontrá-la.


Nos siga no BlueSky AQUI.

Entre no nosso grupo de WhatsApp AQUI.

Entre no nosso grupo do Telegram AQUI.

 

Ajude a fortalecer nosso jornalismo independente contribuindo com a campanha 'Sou Daki e Apoio' de financiamento coletivo do Jornal Daki. Clique AQUI e contribua.


Davi Freitas (D.Freitas) nasceu em São Gonçalo, cria da cultura gonçalense, desde sempre conviveu com músicos, poetas e escritores. autodidata, aprendeu violão e bateria sozinho e junto com o irmão Lucas Freitas fez algumas apresentações até ter, por motivos profissionais, que mudar de estado. Como escritor, participou, pela Editora Apologia Brasil da Antologia em Tempos Pandêmicos e inicia agora sua trajetória no mundo das crônicas e contos. 


POLÍTICA

KOTIDIANO

CULTURA

TENDÊNCIAS
& DEBATES

telegram cor.png
bottom of page