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Foto do escritorJornal Daki

Não chame de preguiça o seu cansaço, por Karla Amaral


Reprodução Internet
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Em algum momento da vida se sentiu com preguiça ou procrastinando? Já parou para pensar que aquele sentimento poderia ser de CANSAÇO? Sim! Cansaço! Já parou para observar quantos vídeos, dicas, textos sobre “como acabar com a procrastinação” vemos pela internet? Ou sobre um estilo de vida, o tal do lifestyle, da positividade? Eu vejo vários. Me esbarro sempre por estas coisas pelas redes. E toda vez que vejo me gera incômodo. E esse meu incômodo tem uma razão. Vou tentar explicar aqui.



Vivemos hoje numa sociedade pautada em alguns princípios: do excesso de positividade, do desempenho, da meritocracia, do faça-você-mesmo, do treine enquanto eles dormem. O autor Byung-Chul Han no livro a Sociedade do Cansaço chama atenção para mudança de paradigma do sujeito que anteriormente era o sujeito da negatividade, da disciplina, da repressão para um novo sujeito neoliberal que impõe o fundamento do desempenho, independente das consequências para alcançar esse objetivo.



Para o autor vivenciamos a mudança da “sociedade disciplinar” para a “sociedade do desempenho”. Para este autor “a sociedade disciplinar ainda está dominada pelo não. Sua negatividade gera loucos e delinquentes. A sociedade do desempenho, ao contrário, produz depressivos e fracassados. […] Esses estados psíquicos [de esgotamento] são característicos de um mundo que se tornou pobre em negatividade e que é dominado por um excesso de positividade”.


Essa subjetividade produzida gera pessoas que tentam alcançar algo que nunca vão alcançar. Um projeto de vida ideal. Terminar a faculdade, fazer outra faculdade, passar num concurso, conseguir bom emprego, fazer especialização, comprar um carro, trocar de carro, trocar de emprego, comprar a casa própria, comprar casa na praia, ter estabilidade financeira, ter estabilidade emocional.... e a lista é sempre interminável. Sempre temos a sensação de ter que ter mais, alcançar mais, produzir mais.



E esse discurso é sempre revestido pelo ideal da saúde mental e promoção de bem-estar que se sustenta por uma suposta liberdade individual que muitas vezes gera uma autodestruição. Não é por menos que a gramática do sofrimento mental deste século é Depressão, Burnout, Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG).



Compreender o funcionamento da sociedade capitalista contemporânea permite compreender ao mesmo tempo como o sofrimento psíquico é moldado e produzido e o motivo do incomodo que por vezes sentimos.


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Contribuição do editor:



Karla Amaral é psicóloga e escreve para o Daki aos domingos.



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