Nem a chuva reduz a alegria gonçalense - por Mário Lima Jr.
Rodei ontem pelo Raul Veiga, Bandeirante e Alcântara atrás de pipa e álbum da Copa do Mundo com meu filho. Parecia que a cidade de São Gonçalo estava em estado de alerta, prestando atenção em cada pessoa, pronta para retribuir a menor gentileza com outra muito maior.
Na rua Augusto Calheiros, no Raul Veiga, subi em uma rampa de garagem e esperei um senhor passar antes de dar ré. Ele passou olhando pra dentro (as janelas estavam abertas), deu “bom-dia” pro meu filho sentado no banco do carona, deu “bom-dia” pra mim do outro lado, me encarando com educação também, e foi embora com um sorriso permanente, fazendo questão absoluta de ser simpático.
Descemos do carro e o vendedor de pipas, lavando o quintal, veio logo nos receber. Sei de cada festival de cafifa improvisado nas comunidades do 2º e 3º distritos por causa dele. Após cada compra, conversamos por alguns minutos sobre essa brincadeira que insiste em não morrer, como São Gonçalo. A casa fica perto do Auto Posto Raul Veiga e depois do papo meu dia fica bem melhor. Com dez raias na mão (uma foi de graça), agora era hora de achar o álbum de figurinhas.
Paramos em frente à banca de jornal da rua Joaquim Laranjeiras, ao lado da Praça do Bandeirante, mas o álbum ainda não tinha chegado. A dona da banca nos indicou onde e com quem falar para comprar o álbum no dia seguinte, sem ligar pra concorrência. E um senhor comprando jornal resolveu jogar conversa fora. Disse que cada pinta no rosto de meu filho significa uma namorada no futuro, assunto que despertou o interesse do Miguel. O senhor tinha tanto pra falar que tivemos que nos despedir antes que terminasse. Atravessamos a perigosa Joaquim Laranjeiras acenando pra trás.
Não ficamos satisfeitos, o jeito seria tentar outra banca de jornal em Alcântara, onde encontramos de tudo. Estacionamos atrás da loja Lab Madeiras e Ferragens e fizemos o restante do caminho a pé. Na manhã fria de ontem, uma fila de pessoas aguardava um cafezinho com bolo gratuitos em frente à loja do Saara, na Estrada Raul Veiga, e um palhaço com microfone garantia a animação da galera cantando e fazendo piada.
A banca do Sandro, em frente às Casas Bahia, também não tinha o álbum e recomendou comprar hoje, domingo, em uma promoção do Jornal Extra. O segundo fracasso não gerou tristeza porque ouvimos que o álbum sairia de graça, junto com o jornal. Era hora de voltar pra casa e a chuva tinha apertado, então corremos. Passamos em frente à Saara de novo e o palhaço gritou no microfone.
– Lá vem o pai correndo com o filho, lá vão eles correndo.
Molhados, eu e Miguel caímos na risada. Todo o povo na fila olhou pra gente, mas nós não olhamos pra ninguém, envergonhados. Miguel só disse pra mim: “O dia hoje está muito maneiro, né, pai?”.
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Mário Lima Jr. é escritor.