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Nada se compara com a perseguição da extrema-direita às pessoas LGBT

Por Helcio Albano

A foto do ato infame/Reprodução TV Câmara
A foto do ato infame/Reprodução TV Câmara

A extrema-direita tem poucas pautas. Todas elas rasas e moralistas. Seus representantes, como não são políticos, têm suas vidas facilitadas pelas redes sociais que construíram e mantêm suas bolhas, sempre ativas e infladas, que se retroalimentam através do pânico moral, sensacionalista e, claro, de muita fake news.


É uma dopamina, similar a uma droga, a deixar sua militância ódio-dependente em permanente euforia. Sem esse ódio em pedra, consumido em cachimbos de tela, as bolhas desinflam em cracolândias digitais, onde @arrobas-zumbis, agressivas, em claros sinais de abstinência, se rebaixam, de joelhos, à maior das degradações humanas, a fim de saciar o seu vício. Isso nada mais é que sintoma de uma sociedade adoecida.



A moeda de troca pra aquisição de sua droga social é o voto depositado, na urna, no sujeito que, sincero ou não, acredita no que faz ou diz. O acordo é entregar-lhe a "mercadoria", que pode ser em forma de discriminação e preconceito, ou violência pura e simples. Não importa contra quem. Nem os seus escapam. A ordem é: quanto mais estúpido, maior a pedra no cachimbo.


Os alvos preferenciais da extrema-direita são minorias. Ou maiorias histórica e socialmente fragilizadas em sua condição, como mulheres e negros. Mas nada se compara ao nível de perseguição às pessoas LGBT no Brasil, que já ultrapassa o bizarro e o cruel.


E a junção da hipocrisia com o fundamentalismo religioso só faz crescer o oportunismo demagógico de gente capaz de qualquer coisa pra satisfazer a horda do mal, cada vez mais banalizado.


Isso deve parar agora.



Plus

A extrema-direita tem uma ordem unida - que extrapola as fronteiras do país - com uma estratégia simples: apostar sempre no medo, no caos e excitar tabus sociais sempre com sensacionalismo e meias verdades. Quando não com mentiras esdrúxulas que beiram ao inacreditável.


Então vejamos: a ordem unida da semana foi escandalizar em cima de uma foto tirada na Parada LGBT em São Paulo.


A questão de gênero, já se sabe, tem muito mais a ver com uma coisa hormonal fisiológica do que com ideologia ou coisa que o valha. Mas como é um troço tabu mal resolvido em nossa civilização puritana cristã ocidental, é politizada da pior maneira possível e usada, de modo espúrio, mais pra confundir do que pra pacificar uma situação que traz muito sofrimento à população LGBTQIA+. Essas pessoas são massacradas todos os dias, caramba!



Bônus

Tendo isso como pano de fundo, um problemático vereador da extrema-direita gonçalense propôs nesta terça (14.jun.23) um esdrúxulo projeto de lei copiado do seu colega paulista do MBL, ex-gay (risos), Fernando Holiday (Republicanos), que proíbe a presença de crianças e adolescentes na "parada gay", segundo consta o documento. Com direito à multa de R$ 10 mil a quem descumprir a ordem estapafúrdia.


[Imagino se o zeloso parlamentar multaria uma das crianças em situação de rua que vive ali pela Zé Garoto que porventura estivesse no cortejo que passa naquele trajeto]


O PL, segundo edil, teria sido pedido a ele por uma vereadora lésbica de Londrina para ser implantado naquela cidade, uma das mais reaças do Paraná. A extrema-direita atua assim, de modo organizado em todo o território nacional via redes e aplicativos de mensagens que são o seu verdadeiro partido.



Bônus-Track

Óbvio que a matéria é inconstitucional. E se passar na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, é bom que se extinga o legislativo em São Gonçalo e se lacre de uma vez por todas o belo prédio do antigo Fórum na Zé Garoto.


Mas não importa. As figuras desclassificadas falaram as groselhas de sempre, fizeram farra em plenário e, ao final das justificativas abjetas do tal PL que equivale pessoas LGBT a marginais e assassinos, tiraram fotos sorridentes com cópias da minuta da proposição nas mãos e com cartazes engana-trouxas pra interditar, como sempre, a discussão de um assunto sério e urgente pra quem vive em angústia ou simplesmente é assassinado com a cumplicidade criminosa dessa gente que tem orgulho de ser má.


Bônus-Track Plus

A dignidade da vereadora Priscilla Canedo (PT) e do seu colega Romario Regis (PDT) no episódio de ontem, que se negaram a participar do ato infame, é um alento e é ao mesmo tempo o triunfo da esperança num mundo menos cruel, estúpido e mesquinho.


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Helcio Albano é jornalista e editor-chefe do Jornal Daki.


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