Maricá garante a estudantes até R$ 8 mil ao concluírem ensino médio
Programa é precursor do Pé de Meia, do governo federal
No contexto do lançamento do programa federal Pé-de-Meia, criado para incentivar financeiramente alunos do ensino médio, uma iniciativa semelhante já está em curso beneficiando jovens de escolas públicas no município de Maricá, no Rio de Janeiro: eles recebem um auxílio mensal de R$ 50 e, ao se graduarem, terão direito a uma poupança que pode chegar a até R$ 8.000.
Batizado como Mumbuca Futuro, o programa tem como objetivo principal reduzir a evasão escolar e estimular os alunos a investirem na economia local, visando preparar a cidade para um futuro após o fim dos royalties do petróleo.
Iniciado em 2023 depois de um projeto-piloto em 2018, o Mumbuca Futuro contempla 1.600 alunos, abrangendo desde o 6º ano do ensino fundamental até o 2º ano do ensino médio, o que representa 9,5% do total de alunos nessas etapas escolares, conforme dados do Censo Escolar 2023.
Maricá ostenta um Ideb de 5,4, posicionando-se como a 11ª melhor cidade em anos finais do ensino fundamental entre as escolas municipais do Rio de Janeiro.
O valor concedido aos alunos é concedido em mumbuca, uma moeda social que homenageia o principal rio da cidade, sendo válida somente em estabelecimentos locais. Anualmente, os participantes têm R$ 1.200 depositados em uma conta poupança, valor que poderão sacar ao se formarem.
A prefeitura, sob a gestão de Fabiano Horta (PT), investe anualmente R$ 2,8 milhões no programa. Além disso, a administração pretende, ainda em 2024, ampliar o número de beneficiados para cerca de 3.000 alunos.
Claudio Gimenez, presidente do Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá (ICTIM), destaca que o programa busca alinhar questões relacionadas à economia solidária, promovendo o desenvolvimento da capacidade de gestão dos alunos e contribuindo para a sua permanência na escola.
O programa contempla bolsas para todos os alunos, independente da renda familiar, em oito escolas municipais e uma estadual. A meta da gestão municipal é estender o benefício a todos os estudantes do ensino médio e segunda etapa do ensino fundamental das escolas públicas da cidade.
Há também planos de implementar o programa nas escolas estaduais de ensino médio, que são de responsabilidade do governo estadual, e a prefeitura afirma estar em diálogo com as autoridades estaduais para viabilizar essa expansão.
Alexandre Costa, aluno do nono ano e um dos participantes do programa, pretende utilizar os recursos para bancar um curso pré-vestibular para ingressar na Universidade Federal Fluminense (UFF) para cursar medicina. Ele relata que o dinheiro recebido é utilizado para comprar itens pessoais, materiais escolares e também investir em seus estudos.
Para Patricia Costa, mãe de Alexandre, o programa contribuiu para que seu filho desenvolvesse independência e responsabilidade financeira, gerenciando seus próprios gastos.
Os alunos devem manter uma frequência de 75% nas aulas e não podem ser reprovados para continuar recebendo o benefício. O valor da poupança só pode ser sacado mediante aprovação em uma universidade ou apresentação de um projeto de economia solidária com enfoque em responsabilidade social e preservação ambiental.
O programa visa também a incentivar os estudantes com interesse em empreendedorismo a investir na cidade após a graduação, visto que Maricá possui uma economia fortemente vinculada aos royalties do petróleo, uma fonte com prazo de validade devido à transição energética.
Os participantes do programa devem participar de atividades no contraturno escolar voltadas à economia solidária, aprendendo sobre finanças, direitos humanos, sustentabilidade e aspectos da economia local, como pesca e agricultura.
Rayanne Gonçalves, gerente-geral da incubadora de inovação social Mumbuca Futuro, destaca a importância das atividades extracurriculares para enriquecer a experiência dos alunos e fomentar o aprendizado sobre questões socioambientais e econômicas locais.
As aulas inspiraram Alexandre Costa a buscar uma vaga como técnico em meio ambiente no ensino médio do IFF de Maricá. Ele relata que aprendeu de forma lúdica sobre sustentabilidade e gestão financeira, aspectos que considera fundamentais para seu futuro.
Fabio Waltenberg, professor de economia da UFF, ressalta a capacidade do programa em reduzir a evasão escolar, mesmo considerando o valor do auxílio financeiro relativamente baixo. Ele destaca a importância de oferecer um incentivo futuro aos alunos, incentivando-os a concluírem cada etapa do ensino.
Waltenberg também menciona que o acúmulo de benefícios, como o Bolsa Família e o programa de renda básica da cidade, complementam-se para evitar a evasão escolar. Uma avaliação a longo prazo ajudará os gestores a determinar se o valor da poupança deve ser ajustado para aumentar o benefício mensal.
De Agenda do Poder.
Entre no nosso grupo de WhatsApp AQUI.
Entre no nosso grupo do Telegram AQUI.
Ajude a fortalecer nosso jornalismo independente contribuindo com a campanha 'Sou Daki e Apoio' de financiamento coletivo do Jornal Daki. Clique AQUI e contribua.