Marcelino - por Paulinho Freitas
SÃO GONÇALO DE AFETOS
Marcelino nasceu com espinha bífida e na hora do parto teve problemas de oxigenação, o que lhe causou uma paralisia cerebral. Marcelino passava os dias em sua cadeira de rodas, na varanda, olhando as pessoas passando na rua. Quem olhava para ele, até os familiares viam que ali não tinha ninguém. No entanto os olhos de Marcelino brilhavam quando Hilda Helena passava com a roupa de colegial e aqueles enormes olhos azuis.
Nas tardes de verão quando as pipas enfeitavam o céu e bailavam ao sabor do vento, enchendo as brancas nuvens de cores, Marcelino estava lá, voando entre elas, de mãos dadas com sua Hilda Helena, vindo à terra e subindo aos céus. Nas noites de lua Marcelino voava entre as estrelas, passava pelas janelas da lua, fazia zig zag entre os planetas e saia pelas portas do sol ao amanhecer. Ás vezes gritava tão alto que o bairro inteiro ouvia.
A família lhe dava medicamentos pensando aliviar suas dores, porém, os gritos eram de alegria, de pura adrenalina ao se ver descendo cada vez mais rápido do céu para chegar em casa, sentar em sua cadeira e dormir, descansar para novas aventuras. Esta era a única hora que Marcelino realmente estava em casa.
O mês de março chegava trazendo grossos pingos de chuva que formavam uma enorme cachoeira descendo do morro da igrejinha e inundando a rua. Lá de cima Marcelino descia escorregando na lama junto com os outros garotos, mergulhando nas poças d’água, brincando de afogar. Ás vezes brigava feio com os moleques da rua, batendo e apanhando. No mundo criado por Marcelino não havia sofrimento nem dor, não havia ninguém triste, a vida era só brincadeira e amor.
Marcelino foi crescendo como os moleques de sua idade que agora passavam apressados pela manhã para ir ao trabalho e voltavam tarde da noite, depois de encararem também os estudos no curso noturno.
Hilda Helena também cresceu e agora era uma linda mulher, de cabelos longos e aqueles olhos cada vez mais azuis, um azul de fazer o céu avermelhar de vergonha.
Marcelino continuava levando sua amada para viagens intergalácticas, descobrindo novos planetas, conversando com extra terrestres, levando a alegria e o amor de seu mundo para todo o infinito. Jamais derramou uma lágrima e nos momentos que consegue ficar em casa oferta um sorriso para quem estiver por perto, alguns sortudos já ganharam até um beijo.
Ao contrário de nós Marcelino não almeja riquezas, não quer carro, não quer dinheiro, não quer ser melhor que ninguém. Quer um mundo tão feliz quanto ele para todo mundo. Garanto que ele está estudando um jeito de virar super herói e ajudar a gente a ser mais gente. Pelo sorriso dele, acho que está sim.
Existem muitos Marcelinos precisando continuar seus sonhos. Inclusive sonhos que podem se tornar realidade. Você pode dar uma força para que isso aconteça.
AEBH/RJ – Associação de Espinha Bífida e Hidrocefalia do Rio de Janeiro. Sede na Rua João Silvares, 226 – Brasilândia – São Gonçalo.
Tel.: +5521 98664-3495
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