Livro contesta decadência industrial de São Gonçalo
Obra de José Luís Honorato promete sacudir as estruturas do senso comum sobre o assunto
Por Helcio Albano
O livro "A indústria gonçalense no século XX: origens e processos" (ed. Apologia Brasil, 250p.), escrito pelo professor José Luis Honorato Lessa - com previsão de lançamento em outubro - traz para os leitores um tema polêmico, intrínseco à identidade de São Gonçalo e cercada de saudosismos até para quem não viveu sua época áurea: a industrialização do município.
São Gonçalo, apelidada por Luiz Palmier na imprensa local em 1940 de "Manchester Fluminense", dada a pujança industrial de outrora, ergueu um dos maiores parques industriais do estado do Rio e do Brasil. E essa condição a fez protagonista do desenvolvimento econômico do país, pelo menos por três décadas até 1960.
Grandes indústrias instaladas no município, como Fiat Lux, Hime, Eletrovidro, Portland (Cimento Mauá) e as de Pescado no Gradim e Porto Velho, eram motivo de orgulho de seu desenvolvimento, fazendo São Gonçalo ser conhecida no Brasil e até no exterior com produtos "made in gonça".
Mas essas enormes fábricas foram fechando, causando melancolia e a impressão de que o fim de suas atividades estava na ordem direta das dificuldades econômicas, sociais e de infraestrutura enfrentados pelo município, que se tornou rapidamente o mais populoso da região.
De 1950 a 1970, por exemplo, a população mais que quadruplicou, passando de 107 mil para 430 mil em 20 anos, alçando São Gonçalo ao palco de um dos maiores movimentos de migração interna do país. O que fez jus à sua tradição de cidade acolhedora, que começou no final do século 19 e início do 20, quando recebeu imigrantes estrangeiros nas instalações da Ilha das Flores, em Neves.
A decadência industrial ocorria a olhos vistos. E, com ela, o empobrecimento da cidade, que de Manchester passou a ser conhecida como "cidade dormitório".
Será?
Honorato contesta essa visão e afirma que, em vez de decadência, o que na verdade ocorreu foi uma reestruturação industrial em meio a uma crise econômica sistêmica que atingiu o país ainda na primeira metade dos anos 1970.
As grandes plantas industriais de Neves e do Barreto deram lugar a outras pequenas e médias espraiadas no território, com destaque para o ramo têxtil na Grande Alcântara.
Quem, nas décadas de 1980 e 90 nunca vestiu uma calça jeans Mavicle ou Celcar?
E para provar sua tese, Honorato se utiliza de grande acervo documental resgatado em fontes oficiais das três esferas de governo e de associações empresariais, que corroboram com um novo rearranjo das atividades industriais em São Gonçalo, que manteve relativamente estável o nível de empregos no setor até 1990, período abordado pelo autor.
O professor também faz um passeio pela imprensa da época, com destaque para os jornais A Gazeta e O São Gonçalo, e também para as revistas Gaivota, Vida Fluminense e Evidência, que cobriram de perto o desenvolvimento industrial gonçalense, seja exagerando nas tintas do entusiasmo ou do pessimismo, o que ajudou a construir mitos e narrativas equivocadas que perduram até hoje.
Os gregos nos ensinaram que não se mexe em certos mitos. Outros, porém, devem ser confrontados e destruídos, como esse que condenou o gonçalense ao derrotismo e ao viralatismo que nos escraviza à prostração e ao atraso.
Essa é a missão de Honorato, gonçalense do Sacramento, nessa obra de grande fôlego e pesquisa.
O livro promete sacudir as estruturas do senso comum sobre o assunto, um dos traços marcantes da identidade gonçalense que, como diz metaforicamente Erick Bernardes em Cambada, não anda para trás. Outrossim, sobe em árvores, pois tem o topo como destino.
A obra pode ser adquirida no site da editora Apologia Brasil ou pelo WhatsApp Aqui.
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Helcio Albano é jornalista e editor-chefe do Jornal Daki.