Lembranças IV - por Paulinho Freitas
SÃO GONÇALO DE AFETOS
De vez em quando, quando a mente está vagando a procura de respostas para as inúmeras perguntas que temos diante da vida, de o porquê de tanta coisa errada que acontece com a gente, de tanta coisa errada que fazemos, às vezes em sã consciência, sabendo que estamos fazendo errado, mas mesmo assim fazemos.
Nessas ocasiões me vejo guri de novo, bem pequeno com meu irmão de leite, o Renato Cezar, naquele tempo às mães trocavam os bebês para darem de mamar e assim virávamos irmãos.
Passamos boa parte da infância juntos até que sua mãe comprou um terreno num bairro distante do nosso, construiu um colégio e a família mudou-se para lá. Nos vimos poucas vezes depois que ele se mudou, mas sempre que nos víamos era um encontro muito festivo.
Meu irmão branco sempre foi muito peralta e levou sua peraltice no coração para a adolescência e fase adulta, só que quando se é adulto, as peraltices quase sempre tem consequências drásticas e numa dessas ele foi fazer e nunca mais voltou.
Lembro do Pedro Paulo, sempre procurando uma forma de ganhar um pouco mais de dinheiro e comprar cortes de tecido para caças novas e sapatos sob encomenda feitos no Sharife, um renomado sapateiro de Niterói, para varar a noite dançando no clube Cinco de Julho ao som da Orquestra Tabajara. Nossa maravilhosa adolescência nos bailes com o melhores conjuntos musicais da época e carnavais no Clube Tamoio. No grupo de jovens da Igreja de São José Operário, dos sonhos compartilhados e longas conversas sentados no murinho baixo na casa de Marly, na esquina ou na porta da Padaria, aquelas portas fechadas da padaria foram testemunhas de muitas confidências trocadas na madrugada.
Lembro-me de Zé Olímpio, grande desenhista, pintor, artista plástico, letrista e tudo o mais ligado à arte, sempre foi mestre. Lembro também das tardes de bingo e buraco na casa de D. Gilda que recebia nossa turma como se nossa mãe fosse, às vezes varando as madrugadas e quando o dia já vinha raiando nos dava café fresquinho que só de pensar já sinto aquele cheirinho gostoso.
A vida foi generosa comigo, tive grandes amigos que o correr da vida e suas preocupações foram afastando da presença física, mas jamais afastados do pensamento e do coração.
Hoje o coração pediu para que eu falasse sobre isso, pensando caro leitor(a), que você também faz este exercício de ir lá no passado para dar uma oxigenada na mente, deixar o coração mais leve e em paz. Lembrar-se das brincadeiras, das gargalhadas, dos amigos, hoje com a cabeça branca e rugas pelo rosto como nós, mas com aquela alma ainda inquieta e sonhadora.
Hoje meu coração é saudade. Hoje meu coração é abraço, é resgate daquela leveza, simplicidade, ousadia, vontade de viver e nunca afastar-se dos sonhos e da alegria.
Saiba caro leitor (a) que este SÃO GONÇALO DE AFETOS, toda semana vem até você na intenção de te emocionar, alegrar, te fazer interagir com os personagens aqui apresentados. Hoje trago lembranças para te lembrar que tua vida é uma história, como uma peça teatral e cada pessoa que passa por ela é um personagem. Na tua história você é o principal personagem e é também o roteirista.
Escreva tua história com alegria para que cada capítulo, cada cena tenha aquele gostinho de quero mais. Seja o melhor escritor, o melhor diretor, o melhor ator. Você é grande!
BOM ESPETÁCULO!!!!!!!!!
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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.