Jair Talarico - por Paulinho Freitas
SÃO GONÇALO DE AFETOS
Jair Talarico mandava e desmandava nos corações de todas as mulheres do bairro Boaçu. Interpretava as canções de Roberto Carlos com o olhar fixo e apaixonado dentro do olhar daquela a quem ele escolhesse aquela noite para ser seu amor pelo resto daquele momento. O magrelo sabia como cativar as pessoas e as chantageava com seu talento e simplicidade.
O mundo de Jair Talarico se expandiu lá pelos lados de Rio Bonito onde conquistou muitos corações e teve vários amores.
Ao voltar para São Gonçalo se instalou no bairro Amendoeira, onde de seu lugar preferido no sofá da sala, às vezes sorvendo um café, ou comendo uma maçã, relembrava de seus dias de glória e de seus grandes amores.
O maior amor de sua vida foi Maria de Fátima, uma morena de fazer parar o trânsito que frequentava os bailes do antigo clube da Costeira ali no Barreto. Jair Talarico ficava de espreita na portaria para que quando ela passasse ele pudesse ser o primeiro a sentir seu perfume.
Dentro do clube ela se encontrava com Jorge Cachimbo, o segurança mais temido dos bailes de Niterói e São Gonçalo, ninguém ousava um olhar no olhar daquela escultura de mulher se não quisesse levar uns catiripapos. Jair subia as escadas do clube, ia até o bar, pedia uma batida, um conhaque misturado com vermute e também uma cerveja para rebater, acendia um cigarro, soltava a fumaça e nela sonhava dançar com Maria de Fátima a noite inteira, só os dois ao som da orquestra que executava um “Besame Mucho,” ou um“ Começaria Tudo Outravez.” Quando o baile acabava Jair Talarico atravessava a rua para beber a saideira ali no Maurícius Bar e depois seguia o caminho de casa aproveitando os últimos raios de lua para continuar sonhando.
De seu sofá lá em Amendoeira os sonhos só eram interrompidos pela tosse e a falta de ar por causa de um enfisema pulmonar adquirido pelo hábito de muito fumar, mas assim que se recuperava voltava aos sonhos.
Jair Talarico era um anjo na terra, sem maldade, sem ambição e sem vaidades. Tudo para ele estava bom, tudo para ele nessa vida era beleza. Um anjo igual a tantos anjos que passam por nós todos os dias e não vemos, não damos atenção, não cuidamos. Esta semana a falta de ar foi mais forte e entre a realidade e o sonho Jair Talarico viu Maria de Fátima linda, sorrindo para ele e pedindo sua mão. Com os olhos lacrimejantes, o peito explodindo de paixão foram-se os dois amar e sonhar pela eternidade.
A frente fria teimosa deu lugar a uma noite cheia de estrelas. No meio do céu uma lua cheia meio rosada pelos beijos do sol ilumina os corações que amam e sonham com um grande e definitivo amor. No ar, uma música do Roberto aconchega nossa querida São Gonçalo:
“...Você foi o maior dos meus casos...”
Paulinho Freitas é compositor, sambista e escritor.