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Imagens de câmeras de PMs do Rio mostram abusos e dramas da profissão

Apesar de obrigatórias, parte das gravações nunca chegaram à Justiça por erros ou porque os agentes não usaram durante a ocorrência


Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Desde 2022, policiais militares do Rio são obrigados a usar câmeras corporais (COPs) nos uniformes, sobretudo durante operações, prisões e confrontos. O Fantástico, da Tv Globo, revelou que uma análise de 200 processos criminais revela que as imagens gravadas mostram de abusos dos policiais ao drama dos agentes mortos e aqueles que cumprem seu dever. Ainda assim, centenas de imagens que poderiam ajudar a elucidar crimes não foram entregues à Justiça.



A Polícia Militar do Rio já abriu nos últimos dois anos mais de 2,6 mil processos para investigar irregularidades na conduta dos agentes sobre as câmeras corporais. Uma dessas apurações é sobre a ação de dois policiais após serem acionados por moradores para perseguirem um grupo que estava praticando assaltos na Zona Norte da cidade. Ao se aproximar do carro dos suspeitos em uma rua sem saída, um dos agentes desembarca e atira contra o veículo e corre em sua direção.



Na gravação é possível ouvir mais tiros, mas sem saber o autor dos disparos. Em seguida, o motorista que diriga o carro suspeito desembarca com as mãos para cima e, apesar disso, um dos policiais continua mandando ele sair do veículo, apesar dele já estar do lado de fora. O homem senta no asfalto e diz ser trabalhador. Em seguida, levanta, e de costas para os PM, leva um tiro do sargento Daniel de Souza Braga. O agente deixou sua câmera na viatura, mas o equipamento do seu colega gravou a ação. O segundo PM então fala ao telefone com um supervisor e conta o que ocorreu:


— O sargento se excedeu um pouquinho, deu nas costas do cara quando o cara desceu. Eu só dei nas pernas, nas rodas, entendeu? — diz.


Apesar disso, na porta da delegacia os policiais foram gravados pelas COPs combinando uma outra versão do ocorrido:


— Então. Mas ó: ele tentou evadir e desviou. Então fugiu (...) Entenda bem. O senhor não mirou nele. O senhor mirou no veículo — diz um dos militares:


— Quem foi que deu tiro nele, eu não sei. Não sei se foi da minha arma, se foi do... Foda é querer apreender minha arma né? — responde o outro..


O homem vítima dos disparos admitiu ter roubado uma bolsa naquela madrugada e foi condenado a 6 anos de prisão. Segundo a PM, a corregedoria apura o caso e o sargento Daniel de Souza Braga foi “preventivamente afastado do serviço nas ruas”.


— Quando a gente fala de desvio de conduta, ele não representa a maioria dos policiais militares. o desvio de conduta é a exceção. A regra é o policial trabalhar corretamente, ele cumprir o seu turno de trabalho em situações de desvio, a polícia militar também tem os remédios adequados, que pode ser desde uma punição ou até a exclusão das fileiras da corporação — afirmou a coronel Claudia Moraes, porta-voz da PM ao Fantástico.


Ao todo, foram analisados quase 800 processos e em 61% dos casos as imagens solicitadas pela Justiça não foram entregues. Segundo a PM, em 200 desses casos, a gravação foi apagada porque os agentes não acionaram o botão “ocorrência” que salva os vídeos por até um ano no sistema. A outra parcela não foi enviada porque os militares não estavam usando as COPs durante a ação.


As câmeras também flagram como os policiais militares do Rio vivem sob constante ameaça de traficante e milicianos fortemente armados. Uma delas gravou o momento em que agentes do Grupamento de Ações Táticas (GAT) tentaram prender traficantes que se escondiam em uma casa em Itaboraí, Região Metropolitana do Rio.


O sargento Gabriel Leite Fernandes estava na equipe e foi baleado quando se aproximou do esconderijo. Sua COP e dos colegas gravaram o momento em que ele foi baleado e a tentativa dos militares de salvar sua vida. Ele foi levado a um hospital da região, mas morreu durante o atendimento de emergência. O sargento foi um dos 33 policiais militares mortos este ano no Rio, sendo em 10 serviço. O homem acusado de matar o policial foi preso, virou réu e aguarda o julgamento.


No mês passado, a PM informou que iria aprimorar o sistema das Cops após uma investigação do Ministério Público do Rio revelar um "tour da propina". Segundo o MP, para recolher o “arrego” (propina), agentes tentavam manipular as filmagens: Para não haver registro da prática dos crimes, os agentes viravam as câmeras para o lado, tapavam a lente com as mãos, retiravam o equipamento, largavam dentro da viatura ou até mesmo nas bases policiais.


Quando usadas sob crivo da lei, as câmeras possuem um papel fundamental de ajudar nas prisões e investigações. Uma delas gravou a tentativa de suborno de uma mulher após um homem ser preso em Copacabana, Zona Sul do Rio, por furtar R$ 400 em itens de um supermercado. O suspeito estava na viatura quando ela chega com um pacote com R$ 1 mil.

Ao entregar ao policial, ela recebe voz de prisão:


— Agora você vai pra delegacia também. Sou polícia, irmão. Não sou vagabundo, não. Não aceito arrego de ninguém, não — disse o agente.


No novo contrato firmado entre a PM e a empresa que fornece as câmeras, ficou decidido, por exemplo a extensão do armazenamento de 60 para 90 dias de todas as imagens gravadas. Também será implementado um sistema de monitoramento de câmeras em todos os ambientes onde estão as estações de carregamento. Essas imagens internas podem ser acessadas em tempo real pelo comando da PM e serão guardadas por dois meses.


*Com informações Extra


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