Humor duvidoso: Quem ri talvez não saiba quantos choram - por Oswaldo Mendes

O negro, a mulher, as religiões de origem africanas, os gordos, os magros, as louras, os anões, os considerados feios, os pobres, os mais fracos. O que eles têm em comum: são objetos de piadas, de risos, de maltrato psicológico, os quais muitas vezes terminam em tragédia, inclusive em escola neste Estado do Rio de Janeiro.
Talvez não o façam de maldade, mas os efeitos podem perdurar por séculos. A expressão “O negro não tem alma” causou sofrimento a milhões de pessoas. O Papa Gregório IX na bula papal Vox in Roma e a caça aos gatos pretos, a qual persiste até nossos dias; o Levítico 21:20 e o sofrimento aos milhares de pessoas com necessidades especiais ou apenas diferente.
São Gonçalo teve quase duas centenas de pessoas deportadas, retirados todos os seus direitos e posses em função de ter outra religião. O terreno onde ficava o centro espírita de Joãozinho da Golmeia foi jogado sal grosso. A definição infeliz de alguém com uma caneta na mão colocou Luiz Caçador como homem mau.
No Governo Militar, as pessoas foram trazidas para São Gonçalo à força e, se voltassem para seu antigo bairro, desapareciam. Antes de fazer piadas com a cidade procurem saber o que foi Maveroi e para onde, quem morava lá, foi jogado. Muitas lágrimas e não havia a quem pedir socorro ou embalar. Viva Coroado!
Quando se vê a violência na cidade, seja ela física, visual ou até mesmo ambiental temos que notar que foram plantadas por pessoas que levam muito lucro com isso. Violência é a coisa que mais dá lucro no mundo. Nós somos o alvo.
Antes de rir dos nossos corpos hídricos, os quais são compostos por diversas bacias hidrográficas, quase todas anteriormente navegáveis, temos que perguntar se tratamos de nossas fezes ou se deixamos para o Estado fazê-lo em nosso nome. Antes de responder que paga, procure ler o conceito de Poluidor-Pagador.
As fezes, na maioria das vezes, são jogadas em canos de cem milímetros que desaguam, inicialmente, nos corpos hídricos da cidade, os quais são em torno de quase cento e setenta.
A cidade não tem separação de águas pluviais (chuva) e de esgoto, assim, ao misturar, polui e contamina tudo. Em função do quantitativo de pessoas jogando suas fezes sem tratamento nos rios, inclusive Alcântara, do desmatamento, das ocupações irregulares, inclusive nas margens de rios, diminui o quantitativo de água e a concentração de fezes aumenta (poluição). Diminui, então, o oxigênio das águas e acaba a vida nos rios. Aumenta o assoreamento dos rios e quando chove alaga a cidade com água pútrida.
Rios foram canalizados de forma totalmente errada. Vejam o caso em Neves. Outros tiveram seus cursos desviados e assim diminuído o coeficiente de rugosidade. Universidades e shoppings em cima de corpos hídricos. Tudo com ciência do Poder Público. Um prefeito denunciou e multou uma instituição e foi perseguido até o último dia do seu mandato. Os pilares da instituição continuam dentro do rio. Ninguém quer ver.
São Gonçalo foi a cidade que vendeu uma praça. Procurem outro caso semelhante.
A Umbanda é a única religião genuinamente brasileira, nascida em São Gonçalo, no bairro da Covanca. O que fez a chefe do executivo municipal: um museu trazendo turistas à cidade ou autorizou derrubar o imóvel numa visão para agradar os preconceituosos? Viva Zélio de Moraes!
Essa mesma água, poluída com baixíssimo nível de oxigênio, caminha e deságua na Baía de Guanabara, onde cinquenta e cinco rios também o fazem da mesma forma. Um Maracanã de fezes todo o dia e muitas vezes de pessoas que mostram, dançando, seus pés sujos da lama que veio exatamente de suas fezes. É para rir?
A Baía de Guanabara sustenta milhares de famílias. Os verdadeiros discípulos de Pedro, Pescadores Artesanais, tiram, honestamente, quatorze por cento de todo o pescado consumido no Estado, desta Baía (vejam como fonte desses dados, a FIPERJ). Cidadãos Invisíveis. Muita gente vive e sobreviveu desta Baía e a ela deve-se todo o respeito.
São Gonçalo não é uma cidade pobre sem motivos. Um cidadão, que se sentava na cadeira de prefeito, doou parte da cidade para Niterói, a qual atualmente, recebe desta parte royalties, isto por volta de 1945. Procure saber o que aconteceu com as Ilhas Fiscal e Redondas, onde elas estão situadas e quem recebe os royalties dela. A pobreza de São Gonçalo foi produzida. Vide Lei 31/2000, da ALERJ. Verifiquem a Lei 3.358/2020 da ALERJ.
Transporte público de massa é só verificar que os ônibus que fazem a ligação intermunicipal diminuiriam seus lucros, assim como barcas na cidade, a qual sempre existiram, não precisa ser gênio para notar que o comércio de Niterói sofreria. Caeiras. Quem nunca de lá foi para Paquetá?
Os alagamentos foram produzidos principalmente por dois diques: A Estrada Niterói-Manilha e a maldita Estrada do Comperj, a qual leva inferno à vida de quem mora na Ipuca, Complexo do Salgueiro e diversas outras localidades. Claro que a ação antrópica não pode ser desprezada, mas, historicamente, fizeram muita covardia com esse Povo sofrido.
Muita gente orgulha, luta e torce pela cidade, a qual, mesmo sem Plano Diretor desde 2018, nota-se claramente que não mais é a cidade dormitório e sim uma cidade de Serviços.
Fazer bullying em fracos é fácil, mas talvez tenha outros adjetivos.
Ainda há reversão para a melhoria da qualidade de vida da população, mas inicia-se por reconhecer os problemas da cidade e buscar soluções.
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Oswaldo Mendes é engenheiro e sambista, não necessariamente nessa ordem.

