Fernanda Torres: patriotas pela sua vitória para o Brasil ou não?
Por Rofa Araújo
O dia 5 de janeiro de 2025 ficará para a História para o Cinema brasileiro: pela primeira vez, uma atriz nossa vence o “Globo de Ouro” de melhor atriz na categoria drama, Fernanda Torres, pelo filme “Ainda Estou Aqui”.
A maioria das redes sociais exaltam esse feito inédito para o Cinema Nacional que não é qualquer coisa. Fora raras exceções, que tentam menosprezar esse feito, ainda pelo filme tratar do período sombrio da Ditadura militar que aboliu a democracia por mais de 20 anos, sumiu e matou muitos inocentes que não se sabe onde estão até hoje. E por que isso? Porque não aceitam e classificam o sumiço e mortes como “eliminar vagabundos”, como se fosse correto matar primeiro e perguntar depois, como fizeram com diversas pessoas desaparecidas por irem de encontro com o regime ditatorial implantado no país.
Outros brasileiros, desavisados ou influenciados, desmerecem a própria vitória dos seus compatriotas e não percebem quanto o nosso povo é capaz em tudo que faz, desde a ciência, esporte e até a arte. Uma vergonha ler comentários lacrados e ideológicos pelo simples fato de quem ganhou o prêmio ter uma posição para a esquerda e não para a direita, de quem detona a grande conquista como se não fosse nada, porém não é bem assim. É uma vitória história e única para o Brasil, sim.
A surpresa foi tamanha que, embora esperançosos numa possível conquista, ninguém esperava vencer devido a um passado de injustiças, inclusive familiar com a mãe da vitoriosa, Fernanda Montenegro, com o aclamado filme “Central do Brasil, em 1999.
A nossa grande e vencedora do Globo de Ouro, Fernanda Torres, filha da Fernandona, disse numa entrevista, algo bem interessante e que nos leva à reflexão: “Hoje em dia todo mundo vive para o grande momento. Parece que a gente só existe na hora de tirar selfie. Isso é 1% da vida e olhe lá! E outros 99%? A vida existe é neles. Viver só por grande momento, chega até ser cansativo. Se você começar a prestar atenção na sua rotina você vai perceber que a vida é toda hora”.
O grande momento é todo dia. E não unicamente naquele especial, aguardado ansiosamente. É preciso estar preparado para que esse chegue a qualquer instante, não necessariamente num futuro muito distante ou inatingível como parece alguns, pois pode chegar até mais cedo do que imaginamos.
Todos os feitos de um país não estão concentrados na política, mas em todas as mais diversas áreas: saúde, educação, esportes, artes – inclusive teatro, televisão, internet e cinema, chamada de sétima arte. A vitória numa Olimpíadas, Copa do Mundo, Oscar ou Globo de Ouro é uma conquista nacional, sim. Afinal de contas somos patriotas ou não? Devemos nos alegrar pelo que o outro consegue vencer na sua área de atuação ou somos tão egoístas que se não for nós mesmos que vencemos não interessa?
Quando pessoas nos desprezam em nossas celebrações de momentos de conquista é porque são narcisistas, pensando apenas em seu umbigo. O que passa à sua volta não importa, pois não é pessoalmente com ele. Agir assim não é pensar no Brasil como um todo e muito menos no seu próximo na sociedade.
Que nos alegremos com as vitórias como patriotas que somos e não frios, calculistas e seletistas para escolher a quem devemos comemorar e a quem devemos desprezar, baseados em ideologias e não nos fatos em si.
Nos siga no BlueSky AQUI.
Entre no nosso grupo de WhatsApp AQUI.
Entre no nosso grupo do Telegram AQUI.
Ajude a fortalecer nosso jornalismo independente contribuindo com a campanha 'Sou Daki e Apoio' de financiamento coletivo do Jornal Daki. Clique AQUI e contribua.
Rofa Araujo é jornalista, escritor (cronista, contista e poeta), mestre em Estudos Literários (UERJ), professor, palestrante, filósofo e teólogo.