Entre a tangerina e o cigarro
Por D.Freitas

-Se comeu tangerina ou se fumou cigarro, são coisas que não dão pra esconder.
Lembro do meu pai derramando essa sabedoria em alguma das várias conversas que tivemos. No momento, essa frase ecoa na minha mente enquanto minha companheira torce o nariz na minha frente. Não demora muito e ensaia sua indagação. Não pergunta por que cheguei tarde, ou onde eu estava.
- Você estava fumando?
Busco rapidamente em minha memória tudo o que fiz nas últimas horas e tento achar o que seria menos prejudicial ao matrimônio. Infelizmente, a lembrança das pernas que prenderam meus quadris nessa madrugada turvam meus pensamentos. Junto a lembrança do cabelo que chicoteava o ar enquanto ela arfava pra buscar o ar que lhe faltava, o som do chocar das coisas sobre a mesa que chacoalhava ou o ranger da cama antiga. Na minha mente também sobra o calor da sua pele, o arrepiar dos seus poros, o cheiro do perfume extremamente cítrico no seu pescoço e o aroma do cigarro sem filtro que sai entre seus dentes que sorriram quando chegou lá.
Sobram lembranças e faltam desculpas.
Escolho a resposta óbvia que talvez seja o que ela quer ouvir.
-Estava sim, amor. Desculpa.
***
Arte/Fotos: Rafael Taboo

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Davi Freitas (D.Freitas) nasceu em São Gonçalo, cria da cultura gonçalense, desde sempre conviveu com músicos, poetas e escritores. autodidata, aprendeu violão e bateria sozinho e junto com o irmão Lucas Freitas fez algumas apresentações até ter, por motivos profissionais, que mudar de estado. Como escritor, participou, pela Editora Apologia Brasil da Antologia em Tempos Pandêmicos e inicia agora sua trajetória no mundo das crônicas e contos.