Em sala de aula, por Fábio Rodrigo
Era mais um dia de aula. O professor entrou na sala e se portou diante de quase cinquenta alunos. Dirigiu o seu olhar para eles. Não era difícil ver nos olhos de cada estudante que não havia sentido algum cada um deles estar ali. A distância afetiva entre os alunos e o professor era, no entanto, o que menos importava naquele momento.
Deu início à aula e teve que se conformar com a carência de materiais à sua volta. A direção comunicara que não havia giz na escola. Tudo aquilo que havia preparado para pôr no quadro foi por água abaixo. Outro problema: os ventiladores estavam escangalhados. E não havia verba suficiente para a compra de novos aparelhos. O calor da sala era um dos maiores empecilhos para o prosseguimento da aula. Mesmo assim, o professor tentava minimizar a situação adversa, procurando de alguma maneira convencê-los de que a presença deles naquele ambiente era algo valioso.
O trabalho incansável do professor era o suficiente para fazê-los esquecer, não somente o calor, mas também suas preocupações intestinas. Todos os alunos na sala pertencem a uma faixa social de pouco prestígio na sociedade. E carregam o peso de serem responsabilizados por todo e qualquer destrambelho que ocorra em seu destino. Estar em sala de aula talvez seja o refúgio necessário para se esgueirar dos males diários.
A aula caminhava para o fim. O professor sabia que nem tudo que ensinara seria absorvido e digerido pelos alunos. No entanto, estava satisfeito por ter dado o seu melhor. Como de costume, lembrou a todos que podiam ficar à vontade para fazer qualquer pergunta. Uma aluna então levantou o braço e indagou sem delongas:
- Qual o sentido da vida?
Pego de surpresa com a pergunta, o professor olhou para todos os alunos e disse, com toda a confiança e despretensão, que não tinha a resposta.
Fábio Rodrigo Gomes da Costa é professor e mestre em Estudos Linguísticos.