E eis que temos mais um 31 de março em nossas vidas
Por Helcio Albano
Hoje é o mitológico 31 de março. Mitológico porque uma mentira bozo-milicoide. Não sei exatamente quando e como fracassamos enquanto sociedade civilizada, mas admitamos: a horda autoritária e assassina convenceu boa parte dos brasileiros que ditadura é bom. Que tortura é necessária. E que milico já nasce beatificado pra morrer santo na terra.
O inacreditável Mourão em pronunciamento no Senado ontem (30) disse que o regime iniciado em 1964 deixou "importante legado" para o "processo democrático do país". O professor Christian Lynch não se fez de rogado e enumerou tal legado: demofobia, hiperinflação, censura, desrespeito aos direitos humanos, corrupção galopante, degeneração dos costumes republicanos, congresso em recesso, intervenção no judiciário.
E eu completaria o "legado" citando o endividamento externo, em dólar, que nos fez escravos do FMI e travou nosso desenvolvimento por décadas, até Lula pagar a dívida e virar credor do Fundo em 2007.
O cenário atual é muito preocupante. Quanto mais nos afastamos temporalmente do trágico período, mais temos dificuldade em sustentar a verdade histórica, cada vez mais uma quimera frente à máquina narrativa da extrema-direita especialista em inverter e distorcer os fatos.
E por algum motivo ainda não muito bem explicado, tal realidade paralela e delirante criada encontra adesão em boa parte da população, que já chutou o balde de qualquer tipo de esforço em buscar a "verdade" das coisas. Tristes tempos.
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Helcio Albano é jornalista e editor-chefe do Jornal Daki.
