Descabelada, de novo!? Por Cristiana Souza

Um certo dia ouvi de um homem: "Vocês mulheres lutam por direitos iguais, mas na hora do vamos ver acaba o feminismo". Acredito que assim como eu, muitas mulheres já passaram por abordagens machistas como essa em algum momento da vida. É indiscutível que existe o esforço contínuo para que vivamos com medo, pressionadas, segregadas e a tentativa de apagar da história os movimentos feministas, suas formas de lutas e as grandes conquistas alcançadas pelas mulheres.
Não podemos esmorecer diante às investidas machistas e misóginas que nos cercam e ter o entendimento que a nossa luta é diária.
Da minha infância tenho poucas lembranças, porém, me lembro de quando fui presenteada com uma boneca barbie e de forma intuitiva não gostei daquela boneca, pois já naquele momento não me identificava com o padrão de mulher perfeita. Detestava quando penteavam meus cabelos com aqueles laços de fitas de cetim, e sempre voltava sem eles pra casa, sendo motivo do descontentamento da minha mãe, que gritava: "Garota, você está descabelada, de novo!"

Com a chegada da adolescência busquei referências das quais me ajudassem a construir a minha identidade, num corpo em transição, entre hormônios, desejos e questionamentos. Nessa fase, diferente das garotas que conhecia, me escondia atrás de roupas largas, não usava batom para ir à escola, mas me parecia com elas na inquietude e achava que a vida precisava acompanhar essa urgência em encontrar as respostas...
E não mais que de repente eu me tornei uma mulher numa sociedade patriarcal, machista e com padrões que devemos seguir. Sou grata por todas as mulheres que ao longo dos tempos foram rompendo com as regras postas e abrindo um caminho possível de superação e empoderamento feminino.
Ser mulher nunca foi fácil e nossas conquistas são marcadas com muita luta e dor, e precisamos estar sempre unidas e fortes.
Pra terminar, não posso deixar de mencionar o número crescente e assustador dos casos de feminicídio, nessa sociedade inerte diante tantas mortes. Estão nos matando pelo simples fato de sermos mulheres.
Basta!

Cristiana Souza é Assistente Social.
