Democracia sob tensão
Por Hélida Gmeiner
Domingo, 8 de janeiro de 2023, primeira semana completa do governo Lula a comemorar e, no entanto, uma força antidemocrática, fomentada por ódio e desinformação toma de assalto a alegria e os poderes institucionais. Destruição, demonstrações do mais abjeto tipo do comportamento humano, defecar, urinar, estragar. Eram uma horda nefasta. A estupidez marcou o dia e exigiu uma onda de reações.
É sobre essa reação que desejo escrever. Ao contrário do que algumas análises têm demonstrado, de tristeza, preocupação e desânimo. Vejo o que aconteceu, desde domingo até o momento em que estou escrevendo esse texto, há poucos dias dos fatos e experimento uma sensação interessante. Tenho natureza otimista, reconheço. Mas tenho buscado uma posição mais realista e pragmática. E é assim, misturando tudo isso, rejeitando o pessimismo que olho para o que aconteceu.
É interessante saber que, embora as autoridades e o governo eleito tivessem conhecimento prévio do ataque, optaram pela estratégia de não oferecer obstáculos que poderiam resultar em feridos ou mortos. Embora exista a destruição do patrimônio público, foi altamente inteligente a estratégia, que mostrou o bom senso do governo eleito na preservação da vida e expôs militantes radicais cuja ideologia é apenas uso da força e desprezo pelo país.
Para mim o saldo final foi de fortalecimento grande da democracia e da frente ampla que venceu a eleição. Infelizmente custou a destruição de patrimônio público e de obras de arte. Foi um alento acompanhar prisões; receber grande apoio internacional; ver a mídia hegemônica ser responsável. Foi ainda melhor ver a caminhada de uma legião de autoridades juntas, em suas muitas diferenças, mas reunidas para fortalecer e defender a democracia. Emocionante!
E culminou, para contentamento de quem defende o estado democrático de direito, com a rápida mobilização dos movimentos sociais, capaz de colocar nas ruas, Brasil à fora, manifestações e atos em defesa da democracia, a despeito da chuva, das férias, do medo.
A quem me pergunta, ou demonstra preocupação com o futuro, tenho falado que há medidas de curto, médio e longo prazo a serem tomadas. Em curto prazo estamos vendo que estão sendo tomadas e precisam ser assim extremas. Em médio prazo, acredito que as forças que criaram esse golpismo terrorista precisam ser resolvidas. Cito uma séria revisão curricular da Educação brasileira e o combate à exploração da fé como fonte de enriquecimento. A longo prazo precisamos de um forte investimento na educação cidadã, consciente e protagonista acima de tudo.
A Democracia é uma escolha que a Sociedade brasileira decidiu tomar, não é um bem material que pode ser quebrado ou danificado. Portanto, aos vândalos terroristas, fica o recado: A Democracia Brasil permanece de pé e fortalecida! E vai cobrar: Sem anistia!
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Hélida Gmeiner Matta é professora da Educação Básica da rede pública. Pedagoga, Especialista em alfabetização dos alunos das classes populares, Mestre em Educação em Processos Formativos e Desigualdades Sociais e membra do Coletivo ELA – Educação Liberdade para Aprender.