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Foto do escritorJornal Daki

Danielle Campos: 'Sem dinheiro pra tratamento, mães passam HIV pros filhos'

A Farmacêutica e Mestre em Saúde Materno-Infantil, a jovem Danielle Pinheiro Campos, é hoje a entrevistada do Jornal Daki.


Por Erick Bernardes


Nascida em São Gonçalo, essa empenhada profissional mantém há tempos o interesse em proporcionar às pessoas uma saúde de melhor qualidade na região do Grande Rio, especialmente às pessoas com o vírus do HIV (vírus da imunodeficiência humana) nas regiões de Niterói, Maricá, São Gonçalo e Itaboraí, pois é onde se concentra o seu plano investigativo e a luta contra esse vírus. Com um trabalho diferenciado, visando preservar a vida humana, quando o descaso governamental atinge proporções gigantes, Danielle Pinheiro Campos traz aos portadores do vírus HIV um pouco mais de dignidade e esperança, e é com ela que conversamos agora.

Ela
Ela

Danielle como você iniciou nesse tipo de atividade ao mesmo tempo acadêmica e profissional?


Bem, essa é uma longa história. Posso dizer que tudo começou a partir do meu trabalho como Farmacêutica Industrial, durante minha atuação no Controle de Qualidade em industriais farmacêuticas. A prática cotidiana laboratorial, o contato com colegas com bagagens diferentes, tudo isso permitiu que meus horizontes se ampliassem e, com o passar do tempo, as conversas frequentes com estagiários e profissionais diversificados provocaram em mim a vontade de pesquisar. Ao conversar com uma professora Doutora na área de Patologia na faculdade de medicina da UFF voltada para o campo das pesquisas com mulheres, essa mesma professora comentou que o único mestrado viável, no ponto de vista dela, seria no âmbito da Saúde Materno-Infantil, na área de concentração em Atenção Integrada à Saúde da Mulher e da Criança. De acordo com os padrões acadêmicos, para eu entrar no mestrado caberia um anteprojeto cuja base deveria conter um grupo de mulheres, adolescentes e crianças para efeito estatístico, ou seja, uma pesquisa prática e real com coleta de dados.


Quando você realmente começou a pesquisa cujo tema é o HIV?


Lembro de um parente que trabalhava no hospital que era referência no tratamento de pessoas com o vírus HIV. Comecei a conhecer a rotina hospitalar no tratamento desse tipo de infecção. Recordo que, na época, me chamou muita a atenção a deficiência da assistência farmacêutica no tratamento com gestantes portadoras do vírus HIV. Não existia o tratamento devido, pouquíssimo (ou nenhum) amparo farmacêutico dedicado aos clientes do hospital. Aquilo chamou muito minha atenção e pensei, “tá aí”, vou mergulhar nesse assunto espinhoso. Eu sabia que deveria estudar os bebês dessas mães portadoras, entretanto, o foco de atenção recaía sobre o estudo das mães das crianças. O caso é que as mães tinham dificuldades de tratamento ou mesmo monitoramento, o fator econômico pesa muito na vida dessas pessoas. Uma parcela não tinha nem dinheiro de passagem para exames e tratamentos de si e dos filhos. Resultado disso? Havia a transmissão vertical entre mães e filhos — e isso me desesperou. Contudo, apesar do desespero com a realidade da nossa saúde, o assunto me encantou e resolvi estudar. Quer dizer, a oportunidade de eu poder ajudar as pessoas através da pesquisa de mestrado.

Já que você falou a transmissão do vírus HIV, explique para nossos leitores, o que esse termo técnico significa Transmissão Vertical?


Sim, claro, o termo precisa mesmo ser esclarecido. A transmissão vertical do HIV (da mãe infectada para o filho) é por via transplacentária (durante a gestação), no trabalho de parto, parto ou amamentação.


Excetuando a pesquisa prática com as portadoras do vírus HIV/AIDS e os bebês, ou seja, no plano teórico, qual foi a sua base de investigação?


Usei artigos sobre o assunto, dados estatísticos, manuais do Ministério da Saúde, os protocolos específicos sobre a luta contra a transmissão do HIV no Brasil. No decorrer do projeto, tive muitas dificuldades, pois eu vi que não era possível fazer o que eu pretendia com relação à assistência farmacêutica, pois nosso sistema de saúde é absurdamente falho, não existe em nossa região uma cultura de integrar o farmacêutico na equipe interdisciplinar de médicos, como especialista como: Infectologistas, Ginecologistas, Pediatras, enfim, um leque de especialidades médicas para atuar contra o HIV. É uma equipe maravilhosa, gente de bagagem investigativa impressionante. E foi lá que eu tomei conhecimento que o farmacêutico só fazia a distribuição do retroviral nos hospitais. Daí me perguntei o que deveria então fazer diante dessa situação?


Qual seu maior sonho hoje?


Eu vi, inicialmente, que não podia fazer mais assistência farmacêutica por questões acadêmicas mesmo, mas havia estudos que apontavam a real situação da transmissão vertical no Brasil. Por mais que se fale do assunto, ele ainda é pouco explorado, quase nada, por assim dizer. Falta iniciativa do governo e do Ministério da Saúde. Nem relatar que há 36, 9 milhões no mundo de infectados, o governo divulga. Só para se ter uma ideia, no Brasil há um estimativa de mais de 932, 129 mil pessoas infectadas. Um descaso na concepção branda da palavra. Há poucas informações epidemiológicas sobre isso. Assim, de modo geral, aqueles que podem fazer alguma coisa se importam minimamente com estudos na área de infecção por HIV. Respondendo agora à sua pergunta, meu maior sonho é ver o HIV erradicado do Brasil e no mundo. Uma utopia, eu sei, mas eu trabalho para isso, enquanto eu tiver forças eu vou lutar pela saúde e pelos meus irmãos brasileiros.


* Quem quiser entrar em contato com nossa entrevistada para saber mais sobre o assunto: pinheiro.dani@hotmail.com ou cel.: (21) 96463-5883.

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