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Corra Juliana! Coragem! Por Cristiana Souza


Franka Potente em "Corra Lola, corra" (1998)
Franka Potente em "Corra Lola, corra" (1998)

Juliana acordou cedo para mais um dia de labuta na fábrica de calçados "Conforto dos Pés". Saiu de casa às 6 da manhã e correu para pegar o coletivo na avenida Passos Largos. Corra Juliana! Atrasos naquela fábrica são passíveis de advertência e desconto no mínimo salário.


Juliana tem o hábito de conversar através de áudios do whatsapp no trajeto até o trabalho, talvez para compensar as horas que passará incomunicável fazendo aquele trabalho mecanizado.


A passageira sentada ao seu lado pôde ouvir numa dessas conversas, que aquela desconhecida iria fazer um aplique de novos centímetros de cabelo, para arrasar no seu aniversário e que pretendia "morrer" com um boy no fim do expediente.

A passageira mesmo que quisesse, não poderia deixar de ouvir os áudios em volume alto do celular de Juliana. O passageiro que ocupava o assento de trás, também pôde ouvir outro trecho da conversa de Juliana, dizendo que havia saído com um cara muito feio e pobre no pagode da última sexta-feira, só para não ficar sozinha, e que sai esporadicamente com um bonitinho que tem carro.


Na manhã seguinte, Juliana acordou pensando como seria seu dia de folga e ainda sentindo na pele os efeitos da noite "massa" que viveu no pré feriado… No dia anterior, ao sair da labuta falou para os colegas de trabalho: "A noite é minha"!


Juliana não sabe dizer ao certo sobre o feriado que proporcionou seu dia folga, mas ela adorou, pois teve um dia longe da exploração da fábrica. Ela, por vezes, deseja que sua vida seja diferente, porém, sempre que pensa em fazer algo novo tem a sensação de que é mais fácil permanecer no miserável emprego da fábrica e ter o salário mínimo para pagar as contas no fim do mês.


Assumir o risco de uma mudança de emprego com uma baixa escolaridade e o alto índice de desemprego que afeta a classe trabalhadora, causa uma imensa insegurança.


Juliana tomada pelo medo do desconhecido e de forma alienada opta por assistir programas de reality show que não a faça questionar sobre tantas coisas ruins que acontecem ao seu redor; como a falta de saneamento básico em seu bairro e aquele político que só aparece em ano eleitoral com as velhas promessas de melhorias.


Ela pensa que não existe caminho possível para melhorar um mundo cheio de problemas. Sendo assim, torna-se mais fácil aceitar como verdade as fake news que recebe nos grupos de whatsapp e seguir seu cotidiano sem perspectivas.


Juliana, mulher, busque o conhecimento que te faça questionar e saia dessa zona de conforto, que te explora, aliena e subjuga.


"O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. (Grande Sertão: Veredas)

Cristiana Souza é Assistente Social.




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