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Contra a melancolia, a olimpolia

Por Sammis Reachers

Dia desses me ocorreu uma palavra inusitada. A língua tem disso, vai parindo palavras para abarcar o novo ou o antigo que precisava ser dito, ou dito melhor, ou dito em menos espaço. Pois o sonho de toda expressão é resumir-se em uma palavra, feito um alfabeto que cresce até virar ideograma. É de sua espécie, feito cobra trocando couro.


No caso que trazemos em questão, seria uma palavra para contrapor a melancolia. Afinal, que palavra contrapõe melancolia em nossa língua? Euforia? Não, deixe a euforia lá, descabelada e se divertindo com as amigas. A melancolia é mais profunda e resiliente, precisa de uma contraparte à seu molde. E eis olimpolia. Sim, de Olimpo, aquele monte grego, suposta morada de deuses ruins (humanos demais). Mas o sentido de solaridade que o termo Olimpo, olimpiano, e suas variantes derivativas como olímpico trazem, é incontornável. Assim, olimpolia seria aquele sentimento de positividade não-piegas, não tóxica (recentemente descobrimos: há toxidade na bobice demasiada, na bondade mimoseada em paramentos de vulnerabilidade). Olimpolia não é alegria, que é até mais pura, atávica, mas acabrunhada de fragilidades. É uma virtude a ser mantida conscientemente, sustentada, um ethos exercitável.


Sejamos cristalinos: Olimpolia é um otimismo despido das frescuras (opa, um termo quase proscrito por aí). 


Um estoicismo que sorri. Sim, pois menos resignado, um ponto menos grave.

Uma euforia disfórica.


Nitzsche, louco ou antes de enlouquecer, falava de vontade de potência. Olimpolia seria exercício de potência, e sua contrita, mas firme celebração.


A skatista que perde o ouro, mas sorri feliz, exulta até (exulta: exatamente aqui está a olimpolia), com o acerto da adversária/colega. Jovem, mas senhora de si, do que é maior, plena das/nas coisas mais importantes. Derrotada, mas senhora de uma outra vitória, difundida na amplitude.


Como poeta, acreditei sempre que há palavras escondidas dentro da luz: Olimpolia é uma das que precisamos. Seja bem-vinda.

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Sammis Reachers é professor e escritor.

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