Conselho de Cultura de SG toma posse em noite corajosa e ousada
Sociedade civil triunfa e se impõe frente ao poder público em cerimônia histórica
Por Cláudio Figueiras
Nesta quarta (16) a prefeitura de São Gonçalo, por meio da Secretaria de Turismo e Cultura (SMTC), deu posse aos novos conselheiros de Cultura da cidade para o biênio 2025/26.
A cerimônia foi realizada no Teatro Municipal, no Centro, e contou com diversificadas apresentações de dança, drag show, poesia e cultura ancestral afrobrasileira, representada na atriz Nicolle Longobardi, acompanhada de uma escola de atabaques gonçalense.
O poeta e escritor Rodrigo Santos apresentou o evento e deu o recado do que se espera da nova composição do Conselho:
"Muito me alegra estar na posse de um conselho de cultura, porque é através da participação da sociedade civil que podemos reivindicar o nosso direito à cidade, e à cultura. (...) Renovo minhas esperanças hoje, aqui. Que o novo conselho de cultura possa contar com a escuta do poder público e 'seja considerado nas decisões que impactam o nosso patrimônio cultural', como disse a secretária em nota oficial", afirmou Rodrigo a um teatro lotado, se referindo à secretaria da SMTC, Júlia Sobreira, que abriu a cerimônia com uma fala breve e sucinta saudando o evento e os novos conselheiros.
A cerimônia foi o triunfo da sociedade civil no Conselho, eleito em maio, mas empossado somente agora devido um recurso administrativo impetrado por uma empresa na SMTC contra a eleição de Pai Fernando D'Oxum, do templo umbandista Tenda Espírita São Lázaro do Pita.
O recurso, por sua vez, foi analisado e arquivado pela Secretaria, que pôde, finalmente, empossar os 16 conselheiros.
E foi Pai Fernando o escolhido pelos seus pares para encerrar a cerimônia, presenteando a secretária Julia Sobreira com um livro sobre o histórico do Conselho entre 2019 e 2021, quando foi membro em sua fase mais difícil durante a pandemia.
Como uma espécie de desagravo ao ocorrido com o umbandista - que muitos nos bastidores consideram ter sido motivado por racismo religioso -, a atriz Nicolle Longobardi encenou um texto inspirado na ancestralidade da Umbanda, especialmente escrito para a noite, de fortes elementos afroindígenas, voltado para São Gonçalo e cheio de referências históricas.
A Escola de Atabaques Valdir Urubatan acompanhou a representação da atriz, seguida de uma apresentação do cancioneiro de terreiro com entusiasmada interação do público, que cantou e bateu palmas de acordo com o ritmo de cada "ponto de macumba", como são conhecidos pelos praticantes da religião da Umbanda e Candomblé.
"São Gonçalo não é uma cidade macumbeira. São Gonçalo não é uma cidade católica. Não é uma cidade gay, não é uma cidade hétero. São Gonçalo é formada por PESSOAS, e pessoas são cristãs, macumbeiras, católicas, heterossexuais, homossexuais. São Gonçalo cresce na pluralidade de sua gente, e que essa pluralidade seja sempre (SEMPRE) o nosso maior orgulho", encerrou Santos, ovacionado pelo público.
Ainda se apresentaram na noite já histórica artistas do Studio de Dança Noor Farag, Roberto Christovam e Rheinaldo Baso, lavando a alma dos artistas da cidade e mandando a real num momento de grandes incertezas para a classe:
"Quem não estiver com o Conselho, vai à merda!", bradou Baso, botando o Teatro abaixo após um mix poético que teve Fernando Pessoa, Berthold Brecht e o poeta gonçalense Augusto Dias.
O Conselho de Cultura de São Gonçalo, responsável por sugerir e fiscalizar ações na área, é composto por 16 membros titulares e seus respectivos suplentes, com mandato fixo de dois anos.
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