Coisas do Coração
SÃO GONÇALO DE AFETOS
Por Paulinho Freitas

Moro próximo ao Instituto de Educação Clélia Nanci. Vejo dezenas de estudantes indo e vindo todos os dias, não posso deixar de prestar atenção em alguns deles. Além de me sentir feliz por ver tanta alegria e energia, comum aos jovens, sinto o coração em paz, porque com esse mundo tão cheio de pecados, discriminações e maldades, aqueles sorrisos me fazem ter esperança em novos tempos. Tempos de festa eterna como são as tardes deles.
Um grupo de meninos, no meio deles tem uma garota, tem sempre uma garota, aquela que todo mundo quer namorar, mas ela é tão legal que ninguém tem coragem de se declarar por medo de perder a amizade. Ela é diferente, fala sobre qualquer coisa com a sabedoria de mãe e um sorriso que exala um perfume que entorpece e faz sonhar.
Entre os meninos tem um que a olha como se estivesse olhando uma santa no andor, ele só ri, enquanto ela acha aquela situação engraçada e sorri.
Rapidamente viajo no tempo e lembro de um moleque chamado Paulinho. Tímido e medroso. Estava ele num ensaio do B.C. Azulão do Coqueiro, ali no Porto Velho e vê a menina mais linda que seus olhos tinham visto na vida. Se era bonita mesmo a gente nunca sabe, a paixão enxerga com o coração e como dizia minha mãe: “quem ama o feio, bonito lhe parece.”
Ele estava com um amigo que era namorador experiente. Já tinha namorado metade do colégio. Pediu ajuda a ele para conquistá-la e ele, com a maior naturalidade do mundo lhe disse:
_Rapaz, chega pra ela e pergunta se ela quer te namorar. Pronto, é só isso, seja direto. Vai lá!
Relutou bastante, foi até ela umas dez vezes, mas voltava no meio do caminho. Rogou a Deus, pediu a tudo quanto é santo que lhe dessem coragem para cumprir seu destino. Numa hora foi tomado por uma força sobre natural, caminhou decidido até ela e disparou: Você quer namorar comigo? Com a mesma rapidez que perguntou ela devolveu: Quero.
Vixe Maria! Ele Gelou. Essa parte ele não estava preparado para viver, não sabia o que fazer. Ela lhe olhando com aqueles olhos que tantas vezes iluminou seus sonhos, ali tão perto. Aquela boca que tanto sonhou beijar, a centímetros da sua e ele sem saber o que fazer. Fez o que lhe veio à cabeça naquele momento. Sorriu e falou pra ela:
_Então tá.
E saiu rapidamente, passou por seu amigo numa velocidade alucinante e foi pra casa. Ficou tão nervoso que não conseguiu mais olhar para ela, que não entendeu nada. Seu amigo colocou um apelido nele e todas as vezes que o via gritava o apelido e gargalhava.
Aquele Paulinho há muito deixou de existir. Tenho saudades dele. Mas, ao ver essas crianças vejo que ele renasce todos os dias e me emociono muito com esta constatação. A gente ainda tem jeito, porque não há tempos modernos ou tecnologia que possam decifrar, modificar ou conduzir as coisas do coração. Que este moleque de hoje seja mais sagaz e tenha um final feliz.
Aquele Paulinho nunca mais viu seu amigo. O apelido que ele colocou? Conto nada!
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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.