Chronos e a ilha Kairós
Por Cristiana Souza

Chronos se programou durante 12 meses para fazer uma viagem quando estivesse de férias, pois ansiava por dias de tranquilidade, sossego, longe do barulho caótico da cidade grande e das horas fracionadas no trânsito, trabalho, estudo, afazeres domésticos e redes sociais.
Pesquisou em vários sites de viagem, mas nada agradou a Chronos. Porém, quando já estava desistindo de encontrar o lugar perfeito que tanto desejava, recebeu um email com a proposta de conhecer uma ilha chamada Kairós. As fotos do lugar empolgaram Chronos que rapidamente respondeu a mensagem do correio eletrônico pedindo informações sobre o valor da viagem e quantas pessoas estariam a bordo da embarcação rumo ao paraíso.
A mensagem recebida dizia assim: "Olá viajante, informamos que você faz parte das 9 pessoas escolhidas no mês de dezembro de cada ano para conhecer a ilha Kairós."
“Nossa, que sorte a minha!" Exclamou Chronos. A viagem foi marcada para o último dia do ano de 2019, zarpando às 7h da manhã no atracadouro Tétis.
Cada pessoa do seleto grupo, antes do embarque, foi questionada sobre a sua vida privada, sexualidade e religião, causando no primeiro momento estranheza àquelas pessoas, mas movidas pelo entusiasmo da viagem, responderam sem mais delongas.
Ficou proibido o uso de celulares, relógios, tablets e qualquer outro item tecnológico após o embarque. Um dos funcionários da companhia lançou mão de um detector de metais para garantir o cumprimento da exigência.
A viagem foi de quase 6 horas e os mais sensíveis sentiram náuseas, sendo preciso tomar um antiácido para amenizar o balanço das ondas. Fora isso, a viagem seguiu sem maiores intercorrências.
Chegando próximo ao destino, o mais entusiasmado do grupo, gritou ao avistar a ilha: “Estamos a duas braçadas do paraíso!"
No desembarque, foram avisados que a estada em Kairós seria até à meia-noite daquele último dia do ano. Chronos respirou profundamente a pureza do ar, contemplando a magnitude da ilha e o som suave dos pássaros e das ondas do mar. O dia estava ensolarado e o mar com incríveis tons de azul.
Em seguida, avistou barracas que tinham os nomes dos escolhidos e, curioso, adentrou logo na sua, onde encontrou uma variedade de frutas, bebidas e um bilhete que enunciou: "Faça bom proveito dessas horas, que serão as melhores de toda a sua existência."
E realmente, as horas que seguiram foram de plenitude e paz. A sensação foi de que o tempo havia parado, pois estavam sem as amarras dos aparatos tecnológicos.
E assim tudo que foi vivido, sentido e experienciado, não teve registro em fotos, selfies, stories e publicações nas redes sociais. As memórias desse dia magnífico estarão gravadas no HD do cérebro.
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Cristiana Souza é Jornalista, Apresentadora no Programa Daki, Assistente Social e graduanda em História pela FFP-UERJ.