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Foto do escritorJornal Daki

Cerol Fininho - por Paulinho Freitas

SÃO GONÇALO DE AFETOS


Foto: Pixabay
Foto: Pixabay

O apelido de Emanoel é Cerol Fininho porque ele, desde adolescente pegava todas as meninas, sempre foi um garanhão. Dizia que nunca se casaria e ficava iludindo as moçoilas incautas, que eram só felicidade quando caíam nos braços daquele malandro e depois quase morriam de chorar quando ele as abandonava, às vezes, sem nem um tchau dar. Cerol Fininho era cruel, muito cruel.


Um dia se engraçou para os lados da filha de seu Eusébio, um português mal humorado e perverso por natureza. Não gostava de muita conversa e jogava muito duro com a filha, recém-saída da adolescência e que encantava os rapazes e os parecia enfeitiçar.


O português não gostou da história e imprensou literalmente Cerol Fininho na parede:


_Casas ou morre! O que será?


O casamento não tardou a sair, Cerol Fininho parecia ter tomado jeito, mas após um infarto fulminante do sogro, voltou para a pista cheio de vontade. Sua esposa chorava, reclamava, mas não adiantava. Todos os dias o marido chegava tarde da noite. Nem com o nascimento das crianças tomou jeito e parece que a santa senhora tinha se conformado com aquela sina.


A última de Cerol Fininho, já com os cabelos brancos e aposentado é ir para a praia de Icaraí, enrolar a camisa na mão e caminhar. Assim que vê uma mulher sozinha finge passar mal, a mulher vem em seu socorro e ele já diz que está caminhando por recomendação médica, para aliviar o estresse e ativar a circulação, mas seu pensamento não se desliga dos negócios, são problemas na matriz em Miami, desvio de verba na filial de São Paulo, bolsa de Tóquio em queda e por aí vai. A mulherada já cresce o olho e Cerol Fininho cai matando.



No domingo, primeiro dia do ano Cerol Fininho acordou cedo, fez a barba, pôs a bermuda e a camiseta, presente de natal dos filhos, se perfumou e quando já ia saindo a esposa implorou:


_Pelo menos hoje, primeiro dia do ano, fica conosco, almoça em família, convidei até o compadre para almoçar com a gente. Fica! Estou te pedindo!


Cerol Fininho fingiu não escutar, bateu a porta e saiu.


Da janela a esposa olhou o carro dele passando e conversou com seus botões:


_ Desgraçado! Está pensando que eu estou sofrendo. Acordei há muito tempo. Enquanto ele corre na praia o compadre corre aqui para casa. Nunca reparou que as crianças não se parecem com ele. Vai infeliz! Minha vingança é ver a vizinhança toda rindo de canto de boca quando você passa. Tenho certeza que pecado não tenho, afinal, chumbo trocado...


E já saiu para a cozinha a terminar seu bacalhau a Gomes de Sá que o compadre adora, cantando uma velha canção do Chico: “Te perdoa por te trair...”


Enquanto isso, já na praia, Cerol Fininho finge mais um desmaio. Coisas desse São Gonçalo de Afetos e de meu Deus.

 

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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.



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