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Foto do escritorJornal Daki

Carlinhos Papai - por Paulinho Freitas

SÃO GONÇALO DE AFETOS

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

A Brasilândia tem muitas histórias para contar. Do Bloco Carnavalesco Paz, Amor e Respeito, do querido amigo Pé Frio, às grandes frases sinceras do potiguar Dedé, guarda também a rotina do nosso querido Carlinhos Pedreiro, que eu carinhosamente chamava de Carlinhos Papai.


Num carnaval ele falou para sua esposa que iria fazer uma obra em Cabo Frio e a pobre senhora passou a sexta feira de carnaval fazendo guloseimas para os netos e tira gosto para os genros passarem a noite vendo o desfile de fantasias e o baile do Tamoio Futebol Clube, o baile mais concorrido do Estado do Rio.


O desfile de fantasias foi maravilhoso como sempre e quando começou o baile um baixinho com uma mulata enorme nos ombros era a figura mais filmada da noite pela rede de televisão e a sacrossanta senhora reconheceu aquela barbicha que roçava em seu pescoço todas as noites. Todos viram, mas ninguém entregou o “velho.”.


Quase amanhecendo o dia vinha Carlinhos cantando um “ Olelê, olalá, pega no ganzê, pega no ganzá...” se abanando com o leque da Brahma e uma faixa na cabeça escrito: “ Beba coca- cola!” Quando abriu o portão, uma panela de pressão voadora, cheia de feijão que estava fervendo com pés de porco, carne seca e lombinho passou raspando por sua cabeça e explodiu no muro. Aquele carnaval foi de muitos caranguejos e gargalhadas.


Na semana santa Carlinhos, muito religioso, comprou aquele peixe fresquinho com o Toninho Português, comeu ensopado com pirão e arroz branco como manda a tradição. À tarde, aquela canjica e às seis horas em ponto a Ave Maria cheia de emoção.



Na madrugada de sábado de Aleluia o Judas era dependurado em um dos postes da Praça do Instituto Clélia Nanci e o nome de todos os vizinhos estava num pasquim pregado em seu peito numa fofoca sem fim. A vida dos vizinhos exposta sem nenhum pudor. Claro que aquilo só poderia ser obra de Carlinhos Pedreiro.


No domingo de Páscoa as crianças estavam ansiosas pela abertura de um enorme ovo de chocolate que Carlinhos Pedreiro colocara em cima da geladeira, mas com a recomendação do carinhoso avô: _ Depois do almoço, só depois que todo mundo almoçar e comer tudinho é que vovó vai abrir o ovo. As crianças estavam eufóricas. Logo após o almoço a esposa de Carlinhos Pedreiro apanhou a embalagem, abriu o laço e ao tirar o papel colorido viu revelado um enorme abacate. As crianças choravam e a santa senhora com a vassoura nas mãos o queria matar.


A essas alturas Carlinhos Pedreiro já se contorcia de rir no bar do outro Toninho, o Bigode.


A última história que ouvi contar de Carlinhos Pedreiro foi de um maravilhoso natal. Segura aí:


Na padaria do Zé, a fila era enorme para assar pernis, chester e perus. No meio da fila Carlinhos Pedreiro com um pernil num enorme tabuleiro de alumínio fazia a maior algazarra: _To aqui desde cedo e essa fila não anda! Estão furando a fila! Tem que respeitar os mais velhos! Onde nós estamos?


De tanto ele reclamar puseram o tabuleiro dele na frente. Logo que viu seu pernil entrar no forno Carlinhos Pedreiro desapareceu. Poucos minutos se passaram e um cheiro doce empesteou o ar fazendo a maioria das pessoas da fila passar mal. Quando tiraram o tabuleiro de Carlinhos Pedreiro do forno viram que em vez de pernil era a metade de uma jaca coberta com papel alumínio. Enquanto todos o praguejavam, Carlinhos Pedreiro ria de se escangalhar bebendo uma Genebra e comendo uma sardinha frita no bar do Wilson, na subida da Rua Bahia.


Nos finais de ano me lembro desses irmãos que tanta alegria nos deram e nos dão com as histórias de suas vidas. Em todos os bairros desse imenso Sãob Gonçalo existe um Carlinhos Pedreiro. No Barreto, em Neves, na Covanca, no Pita, no Barro Vermelho, no Santa Catarina, no Paiva, Porto Velho, na Madama, no Paraiso... e vamos subindo até Ipiiba de um lado e Guaxindiba do outro. São Gonçalo tem infinitos personagens, com infinitas histórias para contar.


São Gonçalo é de Amores! São Gonçalo é de Afetos! Ah meu São Gonçalo, protegei os filhos de sua terra!!!!!!


A todos, todas, todes, tudo o que vier e a todas as formas de amor e de amar...


F E L I Z N A T A L!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

 

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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.



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