Bons Tempos - por Paulinho Freitas
SÃO GONÇALO DE AFETOS
Eram cinco horas da manhã de mais uma segunda feira de trabalho. Saio de casa em direção ao ponto de ônibus. No céu uma lua linda cercada de estrelas pareciam a decoração do vestido de Nossa Senhora. Costumo sair pela manhã rezando, pedindo a Deus, aos Santos, entidades e orixás, que nos protejam, nos auxiliem para que sejamos melhores que no dia anterior e sirvamos para alguma coisa melhor do que destruir o planeta e falar mal dos irmãos.
Concentrado em meus pensamentos, mas de olho no caminho, vejo um carro se aproximando, dentro dele a metade do corpo de um rapaz apoiava a outra metade, que sem piedade arremessou em minha direção um latão de cerveja congelada, por puro reflexo inclinei a cabeça para trás e senti o vento da lata passar por meu nariz. Se pega em mim era morte certa. O carro continuou em marcha lenta e aquele “guri” olhando para mim e gargalhando de sua pilhéria foi se afastando.
Nos meus tempos de juventude, também pregávamos peças nas pessoas, púnhamos apelidos nos colegas, daqueles, que quando bem postos duram a vida inteira. Fazíamos rodas de viola, poesias, andávamos na madrugada cantando, namorando e sendo felizes. Quando nos encontramos temos nas lembranças o motivo principal da conversa e no final, com os olhos marejados exclamamos: Bons tempos aqueles!
Este rapaz, o que quase me matou, nesse ritmo, se vivo for na minha idade, será que ainda terá o que de bom lembrar ou amigos para gargalhar com as lembranças de violência e covardia que estão praticando em nome da diversão? Será que marejarão os olhos e exclamarão: Bons tempos aqueles?
E os filhos deles, que mundo receberão desses pais?
Ah meu São Gonçalo, protegei os filhos de sua terra! Amém!
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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.