Barbas Brancas da Esperança
Por Hélida Gmeiner
Às vésperas do Natal decidi compartilhar uma crônica que escrevi em 2010, quando ainda nem era fundamental fazer acender as esperanças no coração de educadoras e educadores, hoje é…
Veja se você conhece a personagem desta crônica:
Velhinho, barbas longas e muito brancas. Olhar doce, voz mansa, risada inconfundível...
Sua mensagem: Esperança, renovação e transformação. Me ensinou a acreditar nos sonhos possíveis. Sempre se ocupou dos menos favorecidos. Seus presentes são o que acredita ser o bem mais valioso que cada pessoa pode ter. As palavras.
As palavras do mundo são para ser lidas antes e acima de qualquer outra, aprendi com ele. Seus ensinamentos correm o mundo, transformando vidas, comunidades, nações.
Talvez eu já tenha te dado pistas demais, acho que você já descobriu quem ele é, seu nome.
Assim posso falar mais desse bom velhinho que presenteou não tanto as crianças, mas principalmente homens e mulheres que as vicissitudes do destino negaram o direito de estudar. Homens e mulheres a quem chamou oprimidos. Ele via a criança em cada um, tivesse a idade que tivesse. Queria que encontrassem autonomia, para isso investiu em difundir o saber, o conhecimento.
Se ainda não descobriu, seu nome é Paulo Freire. Você pensou que era Noel? Bem podia ser, mas embora tentas semelhanças, há algumas diferenças, até físicas. Meu bom velhinho não era barrigudo, era magrinho. Ele não aparecia só um vez ao ano se recolhendo o resto do tempo em um trabalho secreto no pólo norte. Trabalhou duro entre nós, ano após ano. Exerceu muitas funções tentando por em prática seu pensamento. Aliás, é considerado o maior pensador da educação brasileira.
E apostou na professora. Sabia que guardam em si possibilidades reais de transformação dessa sociedade. Essa mesma que passou a vida tentando ver diferente. Defendia que cada professora ou professor precisava colocar-se em pesquisa de seu próprio fazer. A escola para ele? Lugar de gente, gente que se relaciona, se envolve
Sua obra é um legado para a Educação.. Indignação e conflitos. Era com as adversidades que encontrava fertilidade para educar.
Muitos, que não entenderam sua mensagem, ficam chamando seu pensamento de utopia, de irreal. Chegam a dizer que é impossível existir.
Bem... encontrei então, outra semelhança com Papai Noel. Se o mundo continuar seguindo o caminho da desigualdade, se a cada dia o abismo social se confirmar. Daqui há alguns anos é possível que ninguém mais acredite em Paulo Freire.
Acho que não. Acredito que o que ensinou vai ajudar a mudar o mundo. E quer saber do que mais? Sempre haverá quem tenha esperança. Viva a Pedagogia da Esperança!
Crônica originalmente publicada em https://www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/publicacoes/preview.php?idt=2446332
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Hélida Gmeiner Matta é professora da Educação Básica da rede pública. Pedagoga, Especialista em alfabetização dos alunos das classes populares, Mestre em Educação em Processos Formativos e Desigualdades Sociais e membra do Coletivo ELA – Educação Liberdade para Aprender.