Ação e Reação - por Paulinho Freitas
SÃO GONÇALO DE AFETOS
A vida se resume em ação e reação. Tudo o que a gente faz, vai ter uma consequência, boa ou ruim. Dependendo de sua ação, a reação pode ser um desastre. Às vezes, até a boa ação pode ser um desastre. Mesmo sem querer.
Saí de casa numa manhã de véspera de feriado para ir ao banco. Um corre-corre na rua danado. Todo mundo com pressa de comprar e ir curtir seu feriado em casa, na praia, na estrada, no bar. O negócio é ir. Não queremos nem saber pra onde. Ir é o que interessa. Me benzi na frente da Igreja Matriz de São Gonçalo de Amarantes e continuei andando prestando atenção nas lojas e nas pessoas. Cheguei ao meu destino, fiz o que tinha que ser feito e voltei pelo mesmo caminho, bem devagar e olhando tudo de novo.
Na porta de um banco um rapaz vendia balas, cumprimentava com educação todas as pessoas que passavam, quem comprava e quem não comprava também recebia um eloquente “bom dia.” Quando estava passando, algo me tocou o coração e procurei no bolso uma nota de dois reais para dar a ele. Como só tinha uma de cinco, foi os cinco. Não que só tivesse aquele dinheiro, mas era meu único dinheiro trocado. Ele agradeceu e eu fui caminhando em paz.
Na minha frente uma senhora me alertou que quando eu dei os cinco reais ao rapaz, a outra nota que estava no bolso, uma de cinquenta reais, caiu no chão e sem que eu notasse ele pegou a nota e escondeu. Voltei lá e pedi para que ele me devolvesse o dinheiro afanado. Ele jurou pela mãe mortinha que não havia apanhado dinheiro algum. Levantou, pôs os forros dos bolsos para fora, chorou, fez um teatro danado. Bem, dei de ombros. E como dizia minha velha mãe, “mais tem Deus para dar, do que o inimigo para levar”.
Pois bem, o agora meliante, saiu dali apressado, subiu a Rua Salvatori, virou na Rua Aloízio Neiva feito um moto velocista, quase arrastando as orelhas no chão. No pé do morro encontrou um traficante e com os meus cinquenta reais comprou tudo de entorpecentes. No mesmo momento uma operação policial teve início, o meliante correu, levou um tiro nas costas e caiu. Fiquei sabendo que está paraplégico. O traficante tentou invadir o hospital, mas também foi baleado e levado em estado gravíssimo para o Pronto Socorro Central.
Um dos policiais pegou as drogas e levou para a delegacia, mas ficou com os cinquenta reais. No feriado este policial estava de folga e resolveu beber uma cervejinha com a amante ali na entrada do Boassú. Sua mulher já estava desconfiada da traição e o seguiu. Resultado: Ela chegou de surpresa, quebrou uma garrafa de cerveja na cabeça da amante do marido, quando ele foi tentar segurá-la não conseguiu, ela enfiou a garrafa quebrada em seu braço, o corte foi profundo, cortou o tendão e ele vai ficar sem movimento em três dedos. Ao ser removido para o hospital, no ensejo de “ajudar”, alguém pegou sorrateiramente os cinquenta reais que estava em um de seus bolsos. Ao atravessar a rua, este alguém foi atropelado, a nota saiu voando, outro alguém correu atrás, a pessoa tropeçou, deu com a cabeça no meio fio, abriu a cabeça e o sangue jorrou. A nota caiu dentro de um bueiro e se foi, deixando para trás um rastro de sangue, suor e lágrimas.
Neste final de semana fui dar uma volta pelo centro da Cidade e quando estava voltando, na porta do mesmo banco, uma menina vendia balas e cumprimentava as pessoas com um sorriso cativante. Meti a mão no bolso e por coincidência eu tinha cinco reais, mas só tinha os cinco mesmo. Olhei para a nota, olhei para a garota, pensei em pôr o dinheiro de volta no bolso, mas minha consciência falou mais alto e mandou que eu desse o dinheiro a ela. Que sorriso lindo recebi de volta! Fiquei feliz e com o coração em paz. Faz bem ser do bem.
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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.