top of page
Foto do escritorJornal Daki

Até Logo

Por D. Freitas

Foto: Pixabay

Um fato que não falei aos quatro ventos é que já fui militar da Marinha. Honrei o meu dever nos anos que passei por lá, vi e vivi situações inacreditáveis para a maioria das pessoas e essas situações forjaram amizades que tenho certeza que não farei novamente. Não pelas pessoas serem compatíveis perfeitamente comigo, pois não eram, mas pelo senso de companheirismo, lealdade e uma empatia que só existem verdadeiramente devido a um valor militar chamado espírito de corpo.


Inicialmente, acreditamos que essas palavras bonitas são só teatro ou algo que tentam incutir em nossas cabeças para desmontar um "ser não fardado" e construir um "ser de farda", mas com o tempo e bastante observação, podemos ver tudo isso refletido no nosso ciclo.


Lembro que nunca fui de falar demais, tenho certeza que poucos daquela época me consideravam como amigo, mas eu os considerei. Ainda considero. Às vezes até me pego arrependido de não ter falado o que eu queria no dia que me despedi e prestei minha derradeira continência.


Deveria ter falado para eles tudo o que os outros não disseram. Deveria ter elogiado o que eram como pessoas, além de como militares e profissionais.


Eu falaria ao Douglas, que admiro sua calma, seu senso de humor ácido e a facilidade em ser um líder. Talvez ele não soubesse, mas eu sempre o enxerguei com uma certa admiração. Todos os respeitavam sem precisar temer. Todos se tornavam seus amigos com extrema facilidade. Ele foi o que conheci por menos tempo na época que servi, mas parece que sempre esteve ali. Que compartilhamos inúmeras missões boas e ruins. Que sempre foi nosso centroavante no futebol e que sempre foi o primeiro a resolver qualquer tipo de desavença no ciclo que pertencíamos.


Falaria ao Emanoel que respeito muito sua firmeza. Sua convicção inabalável, sua conduta extremamente limpa e sua honra nunca manchada. Respeito sua força imensurável e sua capacidade de fazer a gente rir com sua inocência. Falaria que sinto sua falta e queria que nossa amizade permanecesse viva apesar de termos tomado caminhos diferentes. Espero que a gente ainda se encontre pela cidade.


Falaria ao Gabriel que invejo sua facilidade em lidar com a vida. Amo sua facilidade em falar que ama alguém. Sua leveza. Sua lealdade. Falaria que a manhã é tediosa desde que nos despedimos. Que faltam suas piadas de humor duvidoso e suas ações impulsivas.  Falaria que sou extremamente honrado de ter conhecido um ser humano tão bom quanto ele. Gente do tipo que ninguém acredita que existe. Gente que realmente cede o próprio prato de comida para alguém faminto, mesmo estando com tanta fome quanto. (Aconteceram algumas vezes).


Falaria ao Maurício que ele é um homem em extinção. Daquele tipo que nossos pais eram. Que capinavam o quintal pela manhã, trabalhavam fora pela tarde e davam atenção para esposa durante a noite. Do tipo que tem o dom para pesca, caça, futebol, churrasco e todo tipo de coisas que os “homens homens” fazem. Falaria que todos os viam como um pai, mesmo os que tinham quase a mesma idade. Sabiam que ele compraria nossa briga, puxaria nossa orelha e sempre teria uma ideia mirabolante para reunir todo mundo para relaxar em algum momento fora do trabalho.


Nunca fui de falar muito no trabalho, principalmente na época em que fui militar, mas sempre escrevi desde aquele tempo. Deixo aqui esse "adeus atrasado" na esperança de que algum deles leia e se torne um "até logo".


Nos siga no BlueSky AQUI.

Entre no nosso grupo de WhatsApp AQUI.

Entre no nosso grupo do Telegram AQUI.


Ajude a fortalecer nosso jornalismo independente contribuindo com a campanha 'Sou Daki e Apoio' de financiamento coletivo do Jornal Daki. Clique AQUI e contribua.


Davi Freitas (D.Freitas) nasceu em São Gonçalo, cria da cultura gonçalense, desde sempre conviveu com músicos, poetas e escritores. autodidata, aprendeu violão e bateria sozinho e junto com o irmão Lucas Freitas fez algumas apresentações até ter, por motivos profissionais, que mudar de estado. Como escritor, participou, pela Editora Apologia Brasil da Antologia em Tempos Pandêmicos e inicia agora sua trajetória no mundo das crônicas e contos. 

POLÍTICA

KOTIDIANO

CULTURA

TENDÊNCIAS
& DEBATES

telegram cor.png
bottom of page