Arrumando as malas
Por D.Freitas
Enquanto arrumo as malas, penso nas "últimas vezes".
O calor, que não é vencido por nenhum eletrodoméstico que é feito para gerar conforto, me faz ir até a janela algumas vezes. Vejo um casal de araras vermelhas sobrevoando os prédios anunciando o fim de tarde. Só então percebo a naturalidade que eu venho tratando algo tão singular. Dou devida importância por provavelmente ser a última vez. Estico o pescoço até vê-las sumirem entre as construções de concreto.
Como em um roteiro de filme, sinto o cheiro de chuva logo em seguida - aquela que vem quase sempre no mesmo horário na época do inverno amazônico - e já me conforto em saber que o clima vai amenizar um pouco. Maritacas voam todas de uma só vez assim que os pingos engrossam, gralhando como um bando de crianças em uma sala de aula de primário e também somem na selva de concreto. Fecho as janelas. Assisto as gotas escorrerem pelo vidro. Escorrem também pela minha bochecha pois penso mais uma vez, nas últimas vezes.
- É hora de fechar as malas.
Até mesmo o zíper insiste em emperrar, faço uma força, termino esse pequeno e árduo trabalho. Ganho a rua enquanto ainda caem finas gotas do céu. Sinto que estou vivo, sinto que vivi e sinto vontade de viver e ver o que vem por aí.
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Davi Freitas (D.Freitas) nasceu em São Gonçalo, cria da cultura gonçalense, desde sempre conviveu com músicos, poetas e escritores. autodidata, aprendeu violão e bateria sozinho e junto com o irmão Lucas Freitas fez algumas apresentações até ter, por motivos profissionais, que mudar de estado. Como escritor, participou, pela Editora Apologia Brasil da Antologia em Tempos Pandêmicos e inicia agora sua trajetória no mundo das crônicas e contos.